Vários antigos instruendos de escolas de condução da região de Braga disseram no Tribunal de Braga que pagaram para passar nos exames de condução e ter a carta de condução. O julgamento termina esta sexta-feira com a leitura do acórdão.
Nas alegações finais, o Ministério Público pediu a condenação de 45 dos 47 arguidos, mas a defesa quer a absolvição por falta de provas. E a nulidade do processo, por ser ilegal a atividade da ANIECA-Associação Nacional dos Industriais do Ensino de Condução, em cujo centro de exames, em Vila Verde, eram feitas as provas teóricas e práticas para se ter carta de condução.
Mas nem todos disseram o mesmo: vários outros alunos, que testemunharam no julgamento mostraram-se ambíguos nas respostas, como que esquecidos da confissão que haviam feito à Polícia Judiciária de Braga aquando do inquérito-crime.
Uma antiga aluna, deu o dito pelo não dito, e vai agora enfrentar um processo-crime por falsas declarações.
Outros ex-alunos de condução acabaram confirmar que haviam pago dinheiro para serem ajudados no exame teórico, por um examinador que lhes dava a resposta certa com indicações com os dedos, método previamente combinado.
Mas para ‘abrirem o livro’ – confirmando o depoimento na PJ – tiveram de ser ameaçados pela magistrada do Ministério Público e pela juiz do presidente do coletivo de juízes: a mentira dá processo-crime. E quase todos foram contando como, quando e a quem pagaram, embora neste último caso tivesse prevalecido a expressão: “não me lembro”.
FÁBIO COENTRÃO “ARREPENDIDO”
Também Fábio Coentrão, que – ficou a saber-se – tirou por três vezes a carta de condução, duas em Portugal – a primeira em Lisboa e a segunda em Vila Verde – e a terceira, em Madrid, Espanha. Esta, ainda é válida.
O futebolista, que voltou a ser ouvido, por vídeoconferência a partir de Vila do Conde, como testemunha, voltou a confessar que pagou 4.000 euros para, em 2012, ser ajudado a passar na prova teórica no Centro de Exames de Vila Verde da Associação Nacional dos Industriais de Ensino de Condução Automóvel (ANIECA)”.
Coentrão – que disse várias vezes, a expressão “não me lembro” – escusou-se a especificar qual a razão por que lhe foi retirada a primeira carta, apesar da insistência de um dos advogados de defesa que o inquririu. A juíza deu-lhe razão, contrariando o advogado e Coentrão não teve de contar a razão pela qual a carta lhe foi “cassada”. Ao que se sabe, terá feito “asneira da grossa” em termos rodoviários, mas o caso não era para ali chamado.
Repetiu o que dissera, na semana anterior, que pagou para ser ajudado no exame de código por um examinador da ANIECA e manifestou-se “arrependido” pelo erro que cometeu ao pagar aquele montante de ‘luvas’ para ser ajudado no exame, por intermédio da Escola de Condução Verde Minho.
Numa das sessões, o inspetor da PJ/Braga, Carlos Antunes havia dito aos juízes que o examinador Carlos Oliveira, tido como o principal mentor do esquema de corrupção, esteve na sala durante o exame do futebolista, supostamente para o ajudar nas respostas ao questionário.
Inicialmente, Fábio Coentrão foi constituído arguido, mas, como confessou o crime e era delinquente primário, o Ministério Público concedeu-lhe a suspensão provisória do processo, com a condição de pagar 3.000 mil euros ao Banco Alimentar Contra a Fome.
O mega processo envolveu examinadores, industriais de condução, instrutores e um agente da GNR.
Luís Moreira (CP 8078)