Os partidos manifestaram esta quinta-feira pesar pela morte do ex-ministro Miguel Macedo, com o líder parlamentar do PSD a afirmar que o país perdeu “um dos seus melhores” e visivelmente emocionado, à semelhança do centrista João Almeida.
“Hoje [quinta-feira] o país perdeu um dos seus melhores. O PSD perdeu um dos seus grandes. Eu perdi um grande amigo”, lamentou Hugo Soares, visivelmente emocionado, no início da sessão plenária na Assembleia da República, após ter sido noticiada a morte do ex-ministro social-democrata Miguel Macedo, aos 65 anos.
Confessando alguma dificuldade em fazer esta intervenção, Hugo Soares considerou que esta quinta-feira o país perdeu “um verdadeiro príncipe da política, alguém de uma integridade à prova de bala, de uma lealdade no combate político como era rara, de uma competência em tudo que punha, que era absolutamente ímpar”.
O líder parlamentar do PSD salientou que Miguel Macedo “nunca se escondeu atrás de ninguém, no combate, na vida, nas opções políticas e pessoais que fez” e que “sofreu muito pela política e pela intervenção política que teve”, mas “foi sempre capaz de enfrentar as dificuldades com nobreza de carácter e elevação”.
“Numa hora como esta, em que expresso também à família as minhas mais sentidas condolências, não sei se o Miguel teria muita gente para escolher para fazer esta intervenção num momento como este. Mas tenho a certeza, e permitam-me que vos diga, que de alguns que ele pudesse escolher, ele gostava muito que fosse «o puto», como ele me sempre chamou, a poder fazê-la”, recordou, aplaudido de pé no final da intervenção.
Também emocionado, o deputado do CDS-PP João Almeida, que foi secretário de Estado de Miguel Macedo quando este era ministro da Administração Interna, afirmou que a política lhe deu “a enorme honra de servir o país sob a sua direcção”.
“Foram muitas horas de trabalho conjunto e muitos quilómetros percorridos pelo país”, recordou, enaltecendo o seu “legado estadista” e o “extraordinário sentido de humor”.
João Almeida lamentou que a política tenha sido “ingrata” com Miguel Macedo, mas afirmou que muitos agentes da autoridade e bombeiros “tiveram honra de vestir uma farda e servir o país quando tinham um ministro que zelava por eles”.
“Deixa-nos cedo, mas deixa-nos muito. Deixa-nos fracos, mas deixa-nos ricos”, destacou.
Rodrigo Saraiva, o presidente da Mesa em exercício, foi o primeiro a manifestar pesar pela morte de Miguel Macedo, dirigindo “sentidas condolências” à família e ao Grupo Parlamentar do PSD.
A líder parlamentar do PS, Alexandra Leitão, que partilhava painel com Miguel Macedo no programa da TSF e CNN Portugal, O Princípio da Incerteza, disse poder “atestar a amabilidade, a simpatia e a correcção” de Miguel Macedo.
“E, portanto, aqui fica a nossa consternação, os nossos sentimentos e creio que, em momento próprio, haverá ocasião para se aprovar um minuto de silêncio ou alguma coisa nesta casa, mas fica aqui a nossa nota”, acrescentou.
Pelo Chega, o líder parlamentar, Pedro Pinto, lembrou um “político inteligente, um homem cordial, um bom quadro da política portuguesa”, e pela IL, Mariana Leitão recordou Miguel Macedo como alguém que “deu grande parte da sua vida ao serviço público” e “à causa pública”.
O líder parlamentar do BE, Fabian Figueiredo, lembrou que Miguel Macedo “foi um adversário político difícil do BE porque era um adversário cordato, leal, que qualificava o debate público onde ele deve estar, na divergência no quadro das ideias”.
Também António Filipe, do PCP, recordou os tempos em que partilhou com Miguel Macedo assento na comissão parlamentar de Juventude e os inúmeros confrontos políticos feitos “sempre com grande correcção e cordialidade”.
Rui Tavares, do Livre, salientou que por vezes “há quem esqueça com demasiada facilidade que a política precisa de aliados e de adversários”, manifestando o seu pesar.
Inês Sousa Real, do PAN, salientou que em política “a pluralidade de ideias é sempre um contributo positivo”.
“Quem o faz de forma séria e marcante, por mais que possamos divergir ideologicamente, deve ser também um legado a perpetuar por todos nós”, frisou.
PAULO CUNHA
Amigos recordam passado político de um homem que podia ter ido mais longe na política, mas que foi alvo de «uma das maiores vergonhas do Ministério Público. “Foi um bom deputado, foi um bom líder parlamentar, foi um bom ministro, foi um bom cidadão de Estado e teria sido também um excelente presidente da Câmara de Braga”, declara Paulo Cunha, líder da distrital de Braga do PSD, citado pela CNN-Portugal.
No sábado, Miguel Macedo esteve presente na assembleia da distrital do PSD de Braga. Quem lá esteve, recorda-se de uma breve mensagem deixada pelo antigo ministro.
“Ele tinha regressado de uma viagem aos Estados Unidos, onde esteve com a filha, e lembro-me de ele mostrar preocupação com a realidade do país e com este pouco cuidado na análise que se faz sobre a vida das pessoas, esta forma como se desrespeita a privacidade e como se ataca a integridade do ser humano, porque os políticos são seres humanos”, conta o eurodeputado Paulo Cunha, presidente da distrital de Braga.
“Isso preocupava-o plenamente e ele não deixou de o partilhar com os militantes. Isso ficou marcado como o último momento político da vida dele.”
Miguel Bento Martins da Costa de Macedo e Silva nasceu em Braga a 6 de Maio de 1959. Advogado, licenciou-se em direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, de cuja Associação Académica foi dirigente.
Foi ministro da Administração Interna, com um percurso que ficou marcado por expressivas manifestações de polícias, tendo uma delas terminado com a invasão da escadaria da Assembleia da República.
Destacou-se como responsável da Administração Interna e também como líder parlamentar do PSD, cargo que exerceu depois de Pedro Passos Coelho ter sido eleito presidente dos sociais-democratas, em 2010, cabendo-lhe enfrentar a oposição ao governo de José Sócrates a partir da Assembleia da República.
Com CNN Portugal e TSF