Desde que, em 2015, a Agência Internacional de Investigação sobre o Cancro (agência da Organização Mundial de Saúde) incluiu o glifosato na lista dos produtos provavelmente cancerígenos (categoria 2A), aquilo que era uma “guerra” com pouco impacto na sociedade civil (guerra de lobbies, entre a comunidade científica e os grupos ecologistas e ambientalistas, de um lado, e a indústria química e agro-alimentar, do outro) passou para a esfera política aberta e para a discussão pública alargada.
O problema está longe de estar esclarecido, até porque várias outras agências governamentais e não-governamentais colocam dúvidas sobre a relação do glifosato com o cancro, a última das quais foi a Food and Agriculture Organization (FAO), organização da OMS para a Alimentação e Agricultura, que em Maio concluiu que é improvável que o glifosato ingerido com os alimentos seja genotóxico e cancerígeno para os seres humanos, dentro dos limites de segurança autorizados (mas não excluiu outros efeitos nocivos, nem o potencial cancerígeno em doses superiores, nem os eventuais efeitos prejudiciais de outras substâncias químicas associadas ao glifosato nas formulações comerciais).
Estando a expirar a 30 de Junho a licença do glifosato na União Europeia, o ano de 2016 tem sido fértil em iniciativas no sentido da interdição (total ou parcial, temporária ou definitiva) deste herbicida.
Do lado da sociedade civil fazem-se alertas à população sobre os riscos do glifosato para o meio ambiente, a bio-diversidade e a saúde pública e lançam-se petições públicas para a sua proibição, como a que decorre em Portugal e já tem mais de 16.000 assinaturas.
Também em Portugal, mas do lado político, alguns municípios e freguesias já abandonaram e outros estão em vias de abandonar o uso do glifosato como herbicida nos espaços públicos e já foram a discussão na Assembleia da República (mas foram chumbados) vários projectos de resolução para impedir ou limitar o seu uso.
Ao nível da União Europeia, o Parlamento Europeu adotou em Abril uma resolução, não vinculativa, que apela a que o prolongamento da licença para o uso de glifosato se limite a um período de sete anos em vez dos 15 inicialmente propostos pelo executivo comunitário. Em resposta a esta resolução, a Comissão Europeia decidiu propor a renovação temporária (12 a 18 meses) desta licença, até ser conhecido o parecer científico da Agência Europeia dos Produtos Químicos, mantendo-se neste ínterim o direito de cada Estado-membro de autorizar os produtos finais (herbicidas e pesticidas) e de impor restrições ao seu uso.
Em 6 de Junho, o Comité Permanente sobre Plantas, Animais, Alimentos e Rações dos 28 países da União Europeia não aprovou esta proposta de renovação temporária da licença do glifosato (com 1 país contra, 20 a favor e 7 a abster-se – entre os quais Portugal – não se obteve a necessária maioria qualificada de 55% dos Estados-membros com 65% da população representada para que fosse aprovada), voltando o assunto à Comissão Europeia, não havendo ainda, à data em que escrevo este artigo (26.06.2016), e tanto quanto sei, uma decisão final tomada.
O que é o glifosato?
Apesar de o glifosato ser normalmente conhecido como um herbicida, ele é muito mais do que isso! Afinal, o que é verdadeiramente esta substância?
O glifosato pertence ao grupo dos organo-fosforados (tal como o pesticida paratião, conhecido em Portugal com o nome comercial de ‘E 605 Forte’ e tristemente célebre pela sua elevada toxicidade), tem o nome químico de N-(fosfonometil) glicina e a fórmula molecular C3H8NO5P. Em estado puro é um pó cristalino, branco, inodoro, ácido e solúvel em água. A sua biodegradação ocorre nos solos e na água, sobretudo por ação de micro-organismos, dando origem ao ácido aminometilfosfórico (AMPA) que é o seu principal metabolito.
Foi sintetizado pela primeira vez em 1950 (e patenteado em 1964) como um quelante químico, isto é, uma substância que fixa alguns minerais como o fósforo, o cálcio, o magnésio, o manganésio, o zinco ou o cobre, reduzindo a sua biodisponibilidade ou removendo-os.
FG (CP 1200) com Lifestyle