As estruturas federativas socialistas do distrito de Braga constituíram, esta segunda-feira, a Academia Salgado Zenha, uma “associação, livre e autónoma na prossecução do seu objecto associativo, sem fins lucrativos”, que, “assumindo como referência histórica a ética e a acção política de Francisco Salgado Zenha,
A Academia, segundo nota à imprensa da ‘distrital’ de Braga do PS “tem como objecto a promoção da reflexão, estudo e debate sobre assuntos relacionados com a política, sociedade, economia e cultura, de âmbito nacional e internacional, bem como a formação de quadros que, naqueles sectores da actividade humana, se identifiquem com os princípios do Partido Socialista”.
Além da Federação Distrital do PS/Braga, a Academia Salgado Zenha, enquanto associação de estudos e formação política, tem como estruturas fundadoras a Federação Distrital de Braga da Juventude Socialista e o Departamento Federativo de Braga das Mulheres Socialistas.
A instituição, lê-se na mesma nota, “orienta-se pelos valores e princípios da liberdade, da igualdade, da justiça, da fraternidade, da dignidade e dos direitos humanos” e desenvolverá a sua acção “numa relação directa e de proximidade para a prossecução dos valores e princípios orientadores plasmados na Declaração de Princípios e nos Estatutos do Partido Socialista”.
Para a prossecução do seu objecto, deverá desenvolver, entre outras actividades, a realização de encontros, debates, conferências e congressos, destinados a debater temas ligados a questões de política local, nacional e internacional; a realização de estudos políticos; a organização de actividades políticas e culturais; a edição de publicações e monografias; e a cooperação com quaisquer entidades públicas ou privadas, nacionais ou estrangeiras, em acções de promoção social, económica, política e cultural consideradas adequadas, adiantam os socialistas.
Antifascista histórico
Francisco Salgado Zenha era natural de Braga, tendo-se licenciado em Direito em Coimbra e exercido a advocacia, depois de estágio com Adelino da Palma Carlos. Tendo aderido ao Partido Comunista Português nos anos 40, foi o primeiro aluno eleito presidente da Direcção da Associação Académica de Coimbra, em 1944. Seria demitido do cargo no ano seguinte, pelo facto de declinar, em assembleia magna, o convite do reitor para o acompanhar numa visita a Salazar, com o fim de lhe agradecer a neutralidade durante a guerra.
Apontado como dos fundadores do Movimento de Unidade Democrática Juvenil, foi preso pela primeira vez em 1947, altura em que conhece Mário Soares, iniciando uma relação de amizade que irá ser reforçada pela participação de ambos na candidatura presidencial de Norton de Matos, em 1949.
Depois de abandonar o PCP, Salgado Zenha aderiu à Resistência Republicana e Socialista, em 1955, dois anos depois de obter a liberdade condicional. Participa na candidatura do General Humberto Delgado à Presidência da República, em 1959. Esteve entre os subscritores do Programa para a Democratização da República, em 1961. No mesmo ano voltaria a ser detido pela PIDE.
Torna-se colaborador de ‘O Tempo e o Modo’, em 1964. É candidato à Assembleia Nacional, pela Oposição Democrática socialista/não-comunista, em 1965 e 1969.
Até ao 25 de Abril, Salgado Zenha fez parte do grupo restrito de advogados que se destacou na defesa de presos políticos e participantes em actividades subversivas. Ganhou notoriedade na defesa de António de Sommer Champalimaud, no âmbito do Caso Herança Sommer, em 1973, garantindo a absolvição.
Ainda em 1964 participa na fundação da Acção Socialista Portuguesa, que iria resultar na criação do Partido Socialista, em 1973, e do qual seria, ainda que contrariado, membro fundador. Não estando presente em Bad Münstereifel, entregou o seu voto contra a transformação da Associação em partido a Maria Barroso, que o representou.
No pós-25 de Abril, converteu-se numa das figuras de proa no processo de democratização, tendo sido ministro da Justiça nos I, II, III e IV Governos Provisórios, e ministro das Finanças no VI Governo Provisório. Foi negociador na revisão da Concordata com a Santa Sé, que veio permitir o divórcio em Portugal, em 1975. Foi também um dos fortes opositores à unicidade sindical, que pretendia a criação de uma única central sindical.
Em 1976, o PS ganhou as eleições legislativas, ocupando Salgado Zenha o lugar de líder da bancada parlamentar na Assembleia da República. Na altura, Mário Soares terá alegado que não o levara para o governo, de que era primeiro-ministro, porque Zenha era a “consciência moral” do partido.
Presidente da AM de Braga
Por volta de 1980, entra em ruptura com Mário Soares, na sequência da polémica em torno do apoio ou não à candidatura de Ramalho Eanes a Presidente da República. Quando o PS decide manter o apoio, em linha com a opinião de Salgado Zenha, Mário Soares demite-se da liderança do partido, só regressando em 1981.
Apesar de sugerido várias vezes ao longo dos anos para ser condecorado com a Ordem da Liberdade, só com a persuasão de António Guterres, amigo de longa data, aceitaria. Seria condecorado a 10 de Junho de 1990 com o grau de Grã-Cruz. Seria também António Guterres, então líder do PS, que o convidaria a reingressar no partido, mas Salgado Zenha manter-se- ia como independente.
Francisco Salgado Zenha foi presidente da Assembleia Municipal de Braga, tendo falecido a 1 de Novembro de 1993, em Lisboa, após doença prolongada.