A sexta conferência inserida no quadro das comemorações dos 250 anos de nascimento de Frei Francisco de São Luís (1766-1855), que ficou conhecido por Cardeal Saraiva, evocou o contexto sociopolítico do Portugal oitocentista na época do prelado limiano, com especial enfoque nos tumultos e desacatos ocorridos na região alto minhota nas primeiras décadas do período liberal.
Orientada por Alexandra Esteves – docente na Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Católica Portuguesa – a palestra ‘Tensões e conflitos entre liberais e absolutistas no Alto Minho no tempo de Cardeal Saraiva’, que decorreu no Auditório da Biblioteca Municipal de Ponte de Lima, revisitou a torrente de acontecimentos que influenciou o percurso do monge beneditino, desde as invasões napoleónicas que ditaram o seu envolvimento nos movimentos de resistência organizada – caso da Junta Provisional de Viana do Minho – à Revolução Liberal de 24 de Agosto de 1820 que determinou a sua nomeação para a Junta Provisional do Governo Supremo do Reino, organismo incumbido de organizar as eleições para a Cortes, de preparar a Constituição de 1822 e de exercer o poder executivo em nome de D. João VI a quem se exigia o imediato regresso à metrópole.
Reforçando a cada passo a importância da contextualização histórica para o conhecimento da figura visada na conferência de tributo, Alexandra Esteves lembrou as convicções liberais de Frei Francisco de São Luís – opção ideológica que numa fase de acesa conflitualidade entre as forças de apoio ao absolutismo de D. Miguel e a população afecta à monarquia constitucional de D. Pedro lhe custou dois prolongados exílios, além de campanhas difamatórias e persecutórias de adeptos realistas -, e sublinhou os efeitos negativos que o clima de hostilidade partidária provocou no Alto Minho – região onde a implantação definitiva do liberalismo se revelou particularmente difícil, resultando do ambiente de crispação política o aumento exponencial da criminalidade, sobretudo nos anos 20 e 30 do século XIX.
Ponte de Lima foi um dos casos tratados pela conferencista, que entre os vários exemplos citados – alguns deles retirados dos Livros de Atas da Câmara Municipal -, destacou um episódio ocorrido em S. João da Ribeira, a 17 de Maio de 1836 – dois anos após o final da Guerra Civil – em que elementos da própria Guarda Nacional cometeram “bárbaras atrocidades” contra facções opostas ao regime vigente.
À comunicação de Alexandra Esteves, que contou com a presença de Paulo Barreiro de Sousa, vereador da Educação da Câmara de Ponte de Lima, segue-se a 6 de Janeiro, pelas 19 horas, a conferência ‘Frei Francisco de S. Luís e o nosso tempo’, de Luís de Oliveira Ramos, que encerra o ciclo de palestras inserido no programa comemorativo dos 250 anos de nascimento de Cardeal Saraiva.