O uso abusivo de antibióticos na infância pode estragar permanentemente o sistema imunitário devido aos efeitos que tem nas bactérias que existem naturalmente nos intestinos, defendem os autores de um estudo publicado esta quarta-feira.
“Está na altura de questionar práticas estabelecidas há décadas, quando ainda não sabíamos tanto”, afirmou o neonatologista Hitesh Deshmukh, autor do estudo publicado na revista Science Transnational Medicine, em que se estudou os efeitos do uso de antibióticos em ratos jovens.
Os cientistas do hospital pediátrico de Cincinnati, nos Estados Unidos, concluíram que os antibióticos que servem para proteger das infecções prejudicam o desenvolvimento das bactérias comensais (úteis ao organismo), que vivem no intestino, tornando os ratinhos mais vulneráveis a pneumonias e, a longo prazo, causam danos no sistema imunitário.
Em quase todos os nascimentos por cesariana nos Estados Unidos são dados antibióticos às mães antes do parto para prevenir as mortais infecções por estreptococos, e 30 por cento dos recém-nascidos também recebem antibióticos preventivamente, sem que haja qualquer infecção confirmada.
“Para prevenir uma infecção numa criança, estamos a expor 200 aos efeitos indesejados dos antibióticos”, afirmou Deshmukh, que defende “uma abordagem mais equilibrada”.
Uma vez no corpo, os antibióticos combatem todas as bactérias, mesmo as comensais, que existem no sistema digestivo, e que contribuem para a formação do sistema imunitário.
Em reacção à presença destas bactérias, o corpo produz células imunitárias que vão agir especificamente sobre os pulmões. Quando se afecta a população de bactérias comensais, as defesas dos pulmões sofrem.
Se se usassem antibióticos de forma mais limitada, as crianças teriam tempo de repor as suas bactérias comensais, mas mesmo assim demoraria meses, mesmo durante o período em que bebés desenvolvem o seu sistema imunitário.
Mas os cientistas salientam que há maneiras de restabelecer o equilíbrio e as defesas dos pulmões.
O uso excessivo de antibióticos poderá explicar por que razão algumas pessoas têm asma e outras doenças respiratórias apesar de não terem qualquer risco genético, argumentam.
Fonte: Sapo24