António Costa e o partido socialista não terão recebido de bom grado o comunicado emitido pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a condenar o comportamento do ministro das Finanças do seu Governo, Mário Centeno.
Segundo informação avançada pela SIC, o presidente defende que Centeno deveria ter dado explicações “há vários meses” e só não demite o ministro porque isso teria impactos sérios na estabilidade financeira do país.
Fontes próximas do presidente garantem à SIC que, horas depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter dado a conhecer a sua posição em relação ao envolvimento de Mário Centeno na polémica das declarações de rendimentos da Caixa Geral de Depósitos (CGD), António Costa “terá deixado claro a Marcelo o seu desagrado”.
O primeiro-ministro terá tecido “vários elogios” ao ministro das Finanças e argumentado que este não deveria ser demitido. Mas esta opinião parece não ter sido partilhada pelo Marcelo Rebelo de Sousa que, em comunicado, terá destacado o “comportamento censurável” do ministro.
De acordo com a SIC, se o “Presidente da República tivesse insistido”, Mário Centeno acabaria mesmo por deixar o cargo.
“Atendendo ao estrito interesse nacional”, o ministro mantém-se na pasta, para evitar os efeitos negativos sentidos aquando da demissão de Vítor Gaspar, mas agora Marcelo está de ‘olho vivo’. As mesmas fontes explicam à SIC que o ministro “não pode achar que tem folga” e passa a estar em “exame”.
Segundo o jornal ‘Público’, a posição adoptada por Marcelo Rebelo de Sousa está a indignar vários deputados socialistas que já se mostraram contra a atitude do presidente.
“Não basta querer ser presidente de todos os portugueses para ser um bom presidente da República”, escreve o deputado e membro do secretariado nacional do PS, Porfírio Silva, no Facebook. “É preciso não ter a tentação de compensar o excessivo ativismo com a técnica de ‘uma no cravo, outra na ferradura’. E também é preciso evitar o método que se costuma chamar ‘atirar a pedra e esconder a mão’”. Porfírio Silva aconselha, por isso, Marcelo a “respeitar os poderes próprios e os poderes dos demais órgãos de soberania”.
O socialista Vital Moreira, no seu blogue Causa Nossa, lembra “os ministros não carecem da confiança política do Presidente, nem este os pode demitir por sua iniciativa, sem prejuízo de poder suscitar a questão da permanência de um ministro perante o primeiro-ministro. Quando um ministro se sente na necessidade de colocar o seu lugar à disposição, fá-lo perante o primeiro-ministro, não perante o Presidente”.
Ao ‘Público’, o deputado socialista Ascenso Simões indica também esta foi “uma vergonhosa nota do presidente da República”.
FG (CP 1200) com Jornal Económico