O juiz jubilado e ex-ministro da Justiça Álvaro Laborinho Lúcio, defendeu, sexta-feira à noite, em Braga, que os mais velhos – expressão que prefere a idosos – devem, eles mesmos, participar ativamente na vida social, nomeadamente ajudando outros cidadãos da mesma faixa etária.
O ex-magistrado sugeriu a criação de uma espécie de banco de competências, onde cada um dos “mais velhos” se inscreveria, pondo as suas capacidades individuais ao serviço de outras pessoas da mesma idade. Propôs, ainda, o lançamento de “casas do conhecimento”, onde, por exemplo, os antigos professores pudessem dar aulas ou explicações, de forma gratuita, aos mais jovens.
Laborinho Lúcio falava, em Braga, no auditório do antigo Hospital de São Marcos, numa conferência que tinha como título inicial o de ´’Ética e Cidadania’, mas a que acrescentou a frase: “O direito de envelhecer com dignidade”. A iniciativa inseriu-se num ciclo de conferências da Comissão de Proteção ao Idoso, presidida por Carlos Branco e em que a moderação esteve a cargo de Eduardo Duque, professor da ‘Católica’ e que lidera a assembleia geral do organismo.
Perante uma sala cheia, Laborinho Lúcio sustentou que só pode haver “envelhecimento ativo” se houver “empoderamento”, dando poder ao “mais velho” criando contextos em que tenha voz ativa, intervindo política, cultural e socialmente, votando como qualquer cidadão nas eleições, e agindo na sociedade em áreas como a do voluntariado na saúde, e no combate à pobreza”.
- As suas propostas envolvem, ainda, a criação, nas escolas públicas, da figura do «pai social», protagonizada por um «velho» saudável e que teria como função a de apoiar alunos não-representados pelos pais ou encarregados de educação.
- A anteceder estas sugestões, o conferencista explicou que todos os cidadãos têm de manter uma atitude proativa de construção de uma prevenção solidária da fase de envelhecimento, e criticou o que chamou de postura do ‘welfare state’ (Estado de bem estar) que torna os velhos como recetáculos em vez de titulares de direitos, com autonomia e dignidade próprias.
O mesmo reparo fez à categorização do ser humano em faixas etárias, crianças, jovens, adultos e idosos, considerando que muitos ainda acham que um velho é um adulto em deformação. “É preciso coesão e não corte geracional”, vincou, defendendo que é preciso deitar fora alguns mitos sobre o envelhecimento.
PSICÓLOGA APLAUDE
No final da conferência, o ambiente era de grande elevação face ao teor da conferência.
Andreia Antunes, psicóloga estagiária no Lar da Santa Casa da Misericórdia de Fão, Esposende, com mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde, (na foto com Laborinho Lúcio) manifestou a O Vilaverdense/PressMinho a sua concordância: “Devemos olhar para o idoso como um sujeito e não como um objeto; o velho não perdeu o direito à autonomia, a vida é um caminho contínuo, intergeracional”. O “velho” continua a ser sujeito de direitos e não pode ser excluído, pela ideia errada de inutilidade, pois temos o direito de envelhecer com dignidade.
“Temos a responsabilidade, enquanto cidadãos, de proteger o sujeito dito idoso, proteger a vida, evitar o sofrimento, trazendo-lhes a alegria e o respeito que merecem. Os seus direitos não podem ser violados, são seres humanos com uma longa caminhada, mas com muito para darem ao mundo”, vincou.
Luís Moreira (CP 8078)