O julgamento do caso do rapto mortal de Braga começou esta quinta-feira, no Tribunal de São João Novo, no Porto, com fortes medidas de segurança, a cargo da PSP e do Grupo de Intervenção e Segurança Prisional (GISP), para escoltar os sete arguidos presos, por suspeitas de desfazer em ácido sulfúrico o cadáver do empresário João Paulo Fernandes.
O empresário de ervanárias Emanuel Paulino, um dos alegados mentores da morte do empresário de Braga, está está preso preventivamente na cadeia de Braga, em cuja bibloteca trabalha a catalogar livros.
“Tem bom comportamento e é sociável”, diz fonte conhecedora do caso. O Bruxo tem recebido visitas várias, já que tem inúmeros amigos e clientes da ervanária que possui na Areosa e tem mais de 100 afilhados.
O Bruxo, com raízes em Braga cidade onde viveu na infância e juventude, era grande amigo do advogado Pedro Grancho Bourbón, com quem terá planeado o rapto, a 11 de março de 2016, em Lamaçães, Braga, do empresário. O qual, no dia seguinte, foi morto por estrangulamento num armazém em Valongo e o seu corpo dissolvido num bidão com ácido sulfúrico. E os vestígios deitados numa lixeira.
Os dois estarão, agora, de candeias às avessas, depois de Pedro Bourbón o ter acusado de ser o único mandante do crime, em parceria com os outros executantes, entre os quais os seus dois irmãos, Manuel e Adolfo Bourbón. Tese que o advogado do Bruxo rejeitou na fase de instrução.
No debate instrutório, Pedro Bourbón chegou mesmo a pedir proteção policial para as duas filhas – afilhadas do Bruxo – e para a mulher, por considerar que o seu ex-amigo é “vingativo”. Disse também que terá influenciado os seus dois irmãos a participarem no crime, do qual só se apercebeu depois de este ter sido consumado.
A quebra de amizade entre os dois foi recebida com algum suspeita pelas outras partes, já que, em conversa telefónica captada pela PJ já depois do crime, o Bruxo dizia-se muito preocupado com Pedro Bourbón, “a pessoa mais importante da sua vida”, chegando ao ponto de dizer que o “ama”.
A confiança entre os dois, que vem da adolescência, passou pelos negócios do pai do João Paulo, o construtor Fernando Fernandes e pela sua própria empresa, a Climalit. Em ambos os casos, o jurista – em quem o malogrado empresário confiava plenamente – participou na gestão dos negócios familiares, sendo mesmo ele, no caso das duas firmas do pai, quem “cortava e riscava”.
Sete dos arguidos vão responder por crimes de associação criminosa, furto qualificado, falsificação ou contrafação de documentos, sequestro, homicídio qualificado, profanação de cadáver e incêndio.
O móbil do crime era “impedir a reversão de um estratagema mediante o qual o património dos seus pais [do empresário] – no valor de dois milhões – fora passado para uma sociedade controlada por dois dos arguidos”.
O avultado património imobiliário dos pais da vítima tinha passado para a titularidade de dois dos arguidos, a fim de ser salvaguardado e não servir para pagar aos credores de uma empresa de construção entretanto declarada insolvente. Mas os pais e João Paulo Fernandes – que também terá sido lesado em mais um milhão – queriam o património de volta, pretensão que terá contado com a resistência de Pedro Bourbon e seus pares.
Por isso, refere a acusação, “sete dos arguidos organizaram-se entre si antes dos crimes, criando uma estrutura humana e logística, com o propósito de sequestrar um empresário de Braga, de o matar e de fazer desaparecer o seu cadáver”.
Luís Moreira (CP 8078) com Joaquim Gomes (CP 2015)