A Criam, empresa inovadora, saída do programa de aceleração da Startup Braga, com um ano e meio de vida, desenvolveu um dispositivo médico portátil que permite a detecção do tipo de sangue de uma forma automática e rápida, e está já a preparar algoritmos para a detecção de 20 outras doenças.
“Apesar do projecto empresarial ser recente, a ideia foi desenvolvida durante o percurso académico da investigadora Ana Ferraz”, que se estendeu por oito anos, na Universidade do Minho, concluindo-se com o doutoramento, no ano passado, explica ao Jornal Económico Vitor Crespo, presidente-executivo da empresa.
O mundo empresarial tem sido rápido a reconhecer a capacidade da jovem empresa e a apoiar o seu desenvolvimento. Primeiro, participou no terceiro programa de aceleração da Startup Braga, em 2016; depois, no seguimento desta participação, tornou-se a segunda startup portuguesa a ser selecionada pela HAX, a maior aceleradora mundial de hardware.
Este programa da HAX garantiu à Criam a possibilidade de desenvolver o protótipo do seu dispositivo no centro mundial do hardware, em Shenzhen, na China, onde a equipa esteve vários meses.
“Fomos acelerados pelo maior acelerador mundial a nível de hardware, a HAX, o que nos permitiu juntar a rede de contactos de Sillicon Valley [nos Estados Unidos] com a componente de engenharia do programa em Shenzhen, China”, explica Vitor Crespo. Além disso, estes processos garantiram ainda visibilidade internacional relevante à jovem empresa portuguesa, já que venceu o Microsoft Imagine Cup Worldwide, garantiu presença na CES em Las Vegas e em eventos internacionais de renome tais como o Pioneers em Vienna ou a London Tech Week.
A startup bracarense é um projeto desenvolvido por uma equipa de seis pessoas e está nesta altura a recolher financiamento para continuar a evoluir. Até agora, obteve 150 mil euros de financiamento.
HAEDWARE INOVADOR
O responsável pela empresa diz que, além dos tradicionais desafios com que se deparam os empreendedores, a Criam foi obrigada a lidar com, “pelo menos, três dificuldades extra”: o facto de ser da área de Life Sciences, de ter de desenvolver hardware e de ter presença em Portugal”.
“Uma empresa como a Criam, [que actua] na área de Life Sciences e está dependente da criação de hardware inovador, necessita de acompanhamento específico, tanto a nível científico como financeiro”, explica Vitor Crespo.
“Em Portugal, o financiamento para este tipo de actividade não se encontra ainda maduro, nem disponível para projectos com estas características”, aponta, acrescentando que, por isso mesmo, a empresa teve de alterar o percurso.
“Tivemos de dimensionar o projecto de investimento à escala global e criar uma boa rede de contactos que nos permita garantir o investimento necessário para os próximos passos”, diz Vitor Crespo.
Acrescenta que o apoio dado às startups a nível governamental tem aumentado muito nos últimos tempos, mas ainda falha a ligação ao mundo empresarial. “Estamos um pouco atrás na ligação da startup ao ecossistema empresarial”.
“Existem já países que criam condições favoráveis para o teste de novos métodos em entidades estatais ou protocolos similares com o sector privado”, acrescenta.
FUTURO INTERNACIONAL
A Criam tem já patente emitida, publicações científicas relativas à precisão do processo desenvolvido e dois dispositivos concluídos que já estão, nesta fase, a fazer testes clínicos em hospitais.
Até agora, os testes clínicos efectuados são apenas para a verificação do tipo sanguíneo, mas já estão a ser desenvolvidas novas valências. “Temos desenvolvido algoritmos para a detecção do HIV e de tuberculose, mas precisamos de os validar através de testes clínicos”, diz Crespo. “E temos já um pipeline superior a 20 doenças que iremos desenvolver”, acrescenta.
Para o futuro, Vitor Crespo diz que, “apesar do investimento limitado, até à data, a Criam conseguiu criar bases sólidas para o seu crescimento”.
“O investimento que está neste momento a ser preparado alavancará a empresa, na medida em que permitirá a criação de certificações e a conclusão do processo de industrialização”, explica.
A empresa garantiu já cartas de intenção de distribuidores em várias geografias, o que garante uma primeira validação do mercado relativamente ao potencial da tecnologia desenvolvida.
Nos próximos 18 meses, a Criam conta ter distribuidores escolhidos para trabalhar diferentes mercados a nível mundial.
FG (CP 1200) com Jornal Económico