A Venezuela tornou-se esta terça-feira o primeiro país a lançar a sua versão da bitcoin, uma moeda digital, numa iniciativa destinada a tentar sair da recessão e permitir a emissão de dívida, proibida pelas sanções económicas norte-americanas.
As autoridades dizem que o petro, o nome da nova moeda digital, está sustentado nas reservas petrolíferas do país, as maiores do mundo, sendo portanto seguro para os investidores, mas os analistas recomendam extrema cautela.
“O meu conselho é lidarem com isto de forma muito cautelosa, especialmente por causa do historial do Governo venezuelano”, disse o cofundador da Signatura, Federico Bond, uma startup argentina especializada em moedas digitais, numa referência aos incumprimentos financeiros do passado recente.
“Eles não estão numa boa posição para obter financiamento de qualquer outra maneira, portanto isto pode ser visto como uma medida desesperada”, acrescentou o empresário.
O Departamento do Tesouro norte-americano, equivalente ao Ministério das Finanças nos governos europeus, avisou que quem investir nesta nova moeda pode estar a violar as sanções decretadas por Washington no ano passado.
No total, a Venezuela planeia emitir 100 milhões de unidades desta moeda digital, começando com uma pré-venda de 38,4 milhões que começa hoje e cujo preço de referência é o atual preço do barril de petróleo, cerca de 60 dólares.
“O petro vai ser um instrumento para estabilidade económica e independência financeira da Venezuela, juntamente com uma visão global e ambiciosa para a criação de um sistema financeiro internacional mais justo, mais livre e mais equilibrado”, lê-se numa nota de 22 páginas em inglês, assinada pelo Governo de Nicolas Maduro e divulgada pela agência de notícias AP.
A bitcoin e outras moedas digitais já são comummente usadas na Venezuela como proteção contra a hiperinflação e são usadas para pagar tudo, desde uma visita ao médico até luas-de-mel, num país onde obter moeda estrangeira implica fazer transações ilegais no mercado econnegro.
O uso de moedas digitais é também impulsionado pelo preço da eletricidade, uma das mais baratas do mundo, e pelo desespero generalizado dos cidadãos, que enfrentam uma recessão económica maior do que a Grande Depressão dos anos 30 originada nos Estados Unidos.
Fonte: Jornal Económico