O grupo parlamentar do Bloco de Esquerda (BE) entregou na Assembleia da República um projecto de resolução que “recomenda a acção do Governo para garantir a continuação da laboração na antiga Trumph e no Grupo Ricon”. Para os bloquistas a insolvência estão “mal explicadas”.
Recorda-se que o grupo Têxtil Ricon, com fábricas em Ribeirão e em Fradelos, em Vila Nova de Famalicão, está em processo de insolvência. Trata-se de um dos maiores grupos têxteis portugueses, com cerca de 800 trabalhadores, proprietário das lojas Gant em Portugal e de várias fábricas e empresas como a Nevag, a Fielcon, a Delos, a Delcon, a Ricon e a Ricon Serviços.
De acordo com a Administração, teria havido uma quebra de encomendas e a exigência de pagamento da totalidade da dívida vencida proveniente dos fornecimentos ao sector do retalho, situação que terá conduzido ao estrangulamento da tesouraria e à consequente incapacidade para cumprir as obrigações com os credores, nomeadamente com o sector financeiro.
O Bloco de Esquerda sublinha que “nunca houve problemas ao nível das encomendas, o que aliás foi corroborado pelas trabalhadoras, e que este processo é o culminar de uma série de investimentos de risco mal sucedidos (numa rede de lojas Porsche ou no negócio da aviação), através dos quais o proprietário, Pedro Silva, foi descapitalizando o grupo, em favor de negócios que indiciam uma gestão danosa”.
“INSOLVÊNCIAS MAL EXPLICADAS”
Para os bloquistas, cada uma destas histórias de insolvência tem o seu enredo próprio, no entanto “ambas se somam ao já vasto conjunto de insolvências mal explicadas que continuam a repetir-se e têm como protagonistas empresários gananciosos e governos negligentes”.
“Não podemos aceitar passivamente esta ‘infeliz coincidência, condenando ao desemprego mais de mil trabalhadoras e desperdiçando o seu conhecimento e especialização, bem como a tecnologia e a capacidade instalada de fábricas em plenas condições para continuar a laborar”, afirmam os deputados.
No entender do BE, “se por um lado cabe à justiça avançar já com a investigação sobre as razões destas insolvências e, afigurando-se o caso, condenar os responsáveis por gestões danosas, por outro, cabe ao Governo actuar para garantir os direitos de quem ali trabalha e para impedir a perda de capacidade produtiva do país”.
Para tal,o Bloco defende que “poderá o Estado, através de decisão governamental, por exemplo, tornar-se accionista das empresas, ainda que temporariamente, tal como já aconteceu no caso da insolvência da Quimonda em 2009”.
Para os deputados bloquistas, “nos casos em análise, está por demonstrar que uma solução do mesmo género não possa vir a ser possível, tanto mais que são as próprias trabalhadoras que confirmam a existência de muitas encomendas em carteira e que as empresas utilizam no processo de fabricação a mais moderna tecnologia de produção”.
O BE propõe que a Assembleia da República recomende ao Governo que “instrua a AICEP Portugal Global, E.P.E. (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal) garanta os postos de trabalho das mais de 1 000 trabalhadoras e trabalhadores, avaliando, com urgência, todos os procedimentos indispensáveis para a reposição em funcionamento destas unidades industriais: a TGI- Gramax e as fábricas do grupo Ricon”.
FG (CP 1200)