Educação, pensamento, política e acção são algumas das chaves para evitar a fragmentação da sociedade e procurar o bem comum, apontadas pelo Arcebispo Primaz, D. Jorge Ortiga, pelo ex-reitor da Universidade de Lisboa, António Sampaio da Nóvoa, pelo historiador Pacheco Pereira e pela professora da Universidade do Minho Isabel Estrada. O debate, moderado pelo director do Porto Canal, Júlio Magalhães, realizou-se esta sexta-feira à noite, no Espaço Vita, na conferência ‘Olhares sobre a cidadania e responsabilidade social’, promovido pela Nova Ágora.
Foi com um apelo ao inconformismo que o Arcebispo Primaz, D. Jorge Ortiga, introduziu o tema “cidadania e responsabilidade social”, no palco do Espaço Vita.
“O discurso exige, muitas vezes, inconformismo, atitudes contracorrentes e não permitir que agendas políticas ou ideológicas tomem as rédeas do nosso futuro”, referiu o Arcebispo de Braga. Para D. Jorge Ortiga, esse inconformismo surge em sintonia com a esperança – tema central do programa pastoral da Arquidiocese de Braga para este ano.
Ortiga sublinhou ainda a importância de todos assumirem responsabilidades em matéria de cidadania activa e responsabilidade social, colocando os discursos em prática, para que não se tornem “meras palavras estéreis”.
A apatia com que o povo acompanha as notícias sobre a actualidade, sem se interrogar acerca do que poderá fazer para mudar a realidade, é algo que preocupa o Arcebispo. “Vemos, ouvimos e lemos. Não podemos ignorar”, advertiu.
O prelado relembrou ainda o conceito de cidadania como o “direito e o dever de cada indivíduo de participar activamente na vida e no governo do país”.
“Cidadania é, por isso, um acto de responsabilidade na prossecução do bem comum. Um bem que não se esqueça do indivíduo nem sobretudo dos mais vulneráveis e desfavorecidos. Existem minorias silenciosas a quem devemos, por imperativo de consciência, emprestar a nossa voz. Penso ser este o objectivo que nos congregou esta noite”, assinalou.
INSTRUMENTOS DE LUTA SOCIAL
A professora da Universidade do Minho Isabel Estrada partilhou com a plateia algumas reflexões em torno do conceito de cidadania social, assinalando duas questões que a inquietam: a ideia de que a cidadania política “está gasta” e que só nos deve interessar a cidadania social e a visão de que a cidadania social pode concretizar-se sem o Estado.
Isabel Estrada mostrou-se preocupada com a crescente desvalorização do papel da política, acompanhada da descrença no exercício de direitos políticos. A professora ressalvou, contudo, que os direitos políticos são “as únicas armas” que garantem o exercício dos direitos sociais, sendo, por isso, “instrumentos de luta social”.
“Enquanto detentora de direitos sociais, sou um cidadão passivo. Enquanto detentora de direitos políticos, sou um agente activo, sou chamada a intervir”, reforçou.