Com os delegados de saúde proibidos de partilhar diariamente os números do Covid-19 a nível concelhio, imposta por Marta Temido, muitas juntas de freguesia e autarquias do Minho ficaram sem “dados concretos” que permitam manter a população informada sobre o evoluir da doença e preparar as estratégias mais adequadas para minimizar o seu impacto. Todavia, há quem tenha recusado ficar de ‘bico calado’.
Esta ‘lei da rolha’, como é já chamada, impede, por exemplo, que os autarcas de Terras de Bouro, Esposende, Barcelos ou Vizela continuem a fazer chegar à população dados menos ‘desfasados’ com a realidade, como acontece com os disponibilizados pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), que apresenta apenas 78% dos casos a nível nacional.
Foi com a informação partilhada pela autoridade de saúde local que a Câmara de Melgaço pôde anunciar à população os dois primeiros óbitos (os únicos até este sábado) ocorridos no concelho, tendo assim reforçado os apelos ao cumprimento do isolamento social e das recomendações da DGS.
Com a proibição do Ministério da Saúde, também a população de Vieira do Minho, Cabeceiras de Basto, Vila Nova de Cerveira, Arcos de Valdevez ou Paredes de Coura deixa de ter acesso a números mais actualizados sobre o que se passa na sua terra.
Da mesma forma, as autoridades de saúde de Barcelos, Guimarães ou Famalicão são obrigadas a ‘meter na gaveta’ o levantamento estatístico concelhio que poderia ser útil aos responsáveis locais da Protecção Civil.
Há, no entanto, quem recuse a política do ‘bico calado’. São os casos das Câmaras de Vieira do Minho e Melgaço, presididas respectivamente por António Cardoso e Manoel Batista, que, já este sábado, postaram no Facebook os números referentes aos seus concelhos.
“AMORDAÇAR”
Joaquim Pinto Moreira, o presidente da Câmara de Espinho, foi uma das primeiras vozes de revolta a fazer-se ouvir. Acusou este sábado, em declarações à TSF, o Governo de estar a impor uma “verdadeira lei da rolha”, para “tentar amordaçar os autarcas, escondendo a realidade do que se passa no país e em cada um dos municípios”.
O autarca sublinhou que é “o responsável máximo da Protecção Civil” no concelho e, como tal, precisa de ter “os dados concretos em cima da mesa para tomar, em cada momento, as decisões que são mais adequadas”, frisando que com a decisão do Governo, os delegados regionais de saúde ficam impedidos de informar os autarcas sobre o alastrar da epidemia nos seus concelhos.
Como os restantes autarcas do país, Joaquim Pinto Moreira passa agora a receber os mesmos dados que são enviados uma vez por dia, por volta das 12h00, à comunicação social.
São precisamente estas declarações que obrigaram Marta Temido a negar, este sábado em conferência de imprensa, qualquer proibição de partilha de informação a nível local ou regional.
“Quero esclarecer inequivocamente que não há qualquer proibição de partilha de informação. Há, sim, um apelo claro a todas as entidades que integram o Ministério da Saúde, em especial as autoridades locais e regionais de saúde, se concentram no envio de informação atempada e consistente para o nível nacional”, afirmou a ministra da Saúde.
“Boletins parcelares podem ser causadores de análises fragmentadas. Acresce, pela dimensão de alguns dados, a possibilidade de violação do segredo estatístico”, justificou Marta Temido.
Fernando Gualtieri (CP 1200)