Regina Duarte deixou a secretaria da cultura do Governo de Jair Bolsonaro, anunciou o próprio presidente nesta quarta-feira e passa a comandar a cinemateca de São Paulo. Mas Mário Frias, ex-actor de Malhação, é favorito para o cargo
“Regina Duarte relatou que sente falta de sua família, mas para que ela possa continuar contribuindo com o Governo e a Cultura Brasileira assumirá, em alguns dias, a cinemateca em São Paulo. Nos próximos dias, durante a transição, será mostrado o trabalho já realizado nos últimos 60 dias”, disse o presidente brasileiro.
Regina, veterana ex-actriz da TV Globo, de 72 anos, rompeu com a estação, tomou posse a 4 de Março, mas durou apenas dois meses no cargo, intervalados de polémicas.
Mário Frias, actor conhecido pelo se papel na novela teenager ‘Malhação’, é o favorito para ocupar o lugar. Frias, 48 aos, disse em entrevista à CNN Brasil estar disponível e Bolsonaro partilhou nas redes sociais extractos dessa conversa.
Na semana passada, Regina Duarte, que vinha sendo criticada por não comentar a morte de figuras fundamentais da cultura brasileira, como os músicos Moraes Moreira e Aldir Blanc e o escritor Rubem Fonseca, entre outros, ganhou as manchetes ao relativizar as mortes causadas pelo regime militar no Brasil, numa entrevista à CNN Brasil, terminada abruptamente após a entrada em cena de um vídeo crítico à sua gestão da também actriz Maitê Proença.
“Ficar cobrando coisas que aconteceram nos anos 1960, 1970, 1980… Gente, é para frente que se olha”, disse a ex-actriz, sobre a ditadura, chegando a cantar ‘Pra Frente Brasil’, um hino daqueles tempos.
Ela também desvalorizou as mortes na actual pandemia – “mortes sempre houve”.
Essa entrevista, porém, foi elogiada por membros do governo e pelo chefe das forças armadas, general Villas Boas, apoiante de Bolsonaro, e gerou até um movimento de boicote de bolsonaristas à CNN Brasil. Os problemas de Regina com Bolsonaro eram anteriores.
Às vésperas de uma reunião entre ambos que serviu apenas para prolongar em duas semanas a sua gestão, a renomeação para a Funarte, uma fundação de apoio às artes, do maestro Dante Mantovani, que havia sido exonerado no contexto da entrada de Regina Duarte no governo, colocou-a na porta da saída.
Regina Duarte não fora informada da readmissão do maestro conhecido por associar a música rock ao satanismo e ao aborto. “O rock activa as drogas, que cativam o sexo livre, que activa a indústria do aborto, que activa o satanismo”, afirmou um dia o seguidor de Olavo de Carvalho, o filósofo brasileiro radicado nos Estados Unidos que é guru também da família presidencial e do seu núcleo mais próximo.
Em áudio partilhado pela revista Crusoé, Regina Duarte e a sua assessora falam desse tema e da indicação de um outro nome para a secretaria de cultura supostamente indicado por Edir Macedo, o bispo que controla a IURD e a TV Record. Na conversa, a ex-actriz desabafa: “Que loucura isso, que loucura, eu acho que ele [Jair Bolsonaro] está-me dispensando”.
Bolsonaro já verbalizara o descontentamento pela ausência física de Regina Duarte – está de quarentena em São Paulo por pertencer ao grupo de risco do coronavírus e não no gabinete em Brasília. “Infelizmente a Regina está trabalhando pela internet (…) Eu gosto de conversar pessoalmente com as pessoas. A gente espera que restabeleça a normalidade rapidamente no Brasil para poder funcionar”, disse o presidente.
Já no dia 23 de Abril, Regina vira, a nomeação de Aquiles Brayner para o cargo de director do Departamento de Livro, Literatura e Bibliotecas ser cancelada após influencers bolsonaristas acusarem o doutorado em literatura e graduado em psicologia e biblioteconomia, de ser “um esquerdista infiltrado”.
Cinco dias após a posse da ex-actriz, o Palácio do Planalto também cancelara a nomeação de Maria do Carmo Brant de Carvalho da Secretaria de Diversidade Cultural, por ser filiada ao PSDB – o partido de Fernando Henrique Cardoso, de José Serra, de Aécio Neves, de Geraldo Alckmin. Na internet, os mesmos bloggers chamaram-na de “petista”, ou seja, de membro do Partido dos Trabalhadores.
No discurso de posse, Regina Duarte lembrou o presidente de que ele lhe dera “carta branca”. Mais ou menos o mesmo que Bolsonaro dissera a Sergio Moro, o ministro da justiça e da segurança que se demitiu acusando o Planalto de interferência em investigações e de pressões para mudar o director da polícia federal por alguém próximo do clã Bolsonaro.
Antes de Moro, o mais popular dos ministros do governo, caiu o segundo mais popular deles, o titular da saúde Luiz Henrique Mandetta, que coordenava com forte aprovação popular o combate ao coronavírus. No caso, a saída deveu-se à decisão de Mandetta de seguir as recomendações de isolamento social recomendadas pela Organização Mundial de Saúde.
Redacção com TSF e CNN Brasil