Trabalhadores transfronteiriços juntaram-se esta segunda-feira aos autarcas do Alto Minho e da Galiza para insistir na abertura de mais passagens entre as duas regiões para diminuir os custos mensais em deslocações.
“Há 19 anos que tenho o meu salão de cabeleireiro em Melgaço. Até agora o meu trabalho ficava a seis minutos de casa, em Salvaterra do Minho. Agora faço o mesmo percurso em 01h30/01h40. Na semana passada demorei cinco horas a chegar ao trabalho porque na fronteira implicaram que os meus papéis não serviam”, afirmou Cecília Puga, cabeleireira de Salvaterra do Minho com um salão em Melgaço.
A empresária, que falava aos jornalistas em mais uma acção de protesto promovida pelo Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial (AECT) Rio Minho contra a existência de um único ponto de passagem autorizado para trabalhadores transfronteiriços e transporte de mercadorias, na ponte nova sobre o rio Minho, que liga as cidades de Valença e Tui, disse que se soubesse que teria de percorrer os cerca de 100 quilómetros que tem agora de fazer por dia “nunca na vida” teria montado um negócio em Portugal.
“Simplesmente peço que me deixem trabalhar. Já sabemos que é cedo para abrir as fronteiras a todos, mas pelo menos [para] os trabalhadores transfronteiriços, deixem passar por onde sempre passaram. Se não têm meios na Guarda Civil, em Espanha, na PSP, em Portugal, ponham o Exército [a controlar a fronteira], mas deixem os trabalhadores transfronteiriços irem para os seus postos de trabalho”, apelou.
No meio da ponte internacional João Verde e Amador Saavedra, que através do rio Minho liga a vila de Monção a Salvaterra do Minho, o feirante Vítor Domingues empunha o mesmo cartaz que exibia Cecília Puga e onde se lia “Deixem-me trabalhar”.
O empresário de 42 anos faz as feiras de Monção, Valença e Vila Nova de Cerveira e, desde que foram repostas as fronteiras entre os dois países, vai “arejar a mercadoria para tirar o cheiro a mofo”.
“Cerca de 80% dos nossos clientes são espanhóis. Num dia de feira normal podia facturar entre 300 a 400 euros. Agora, há dias em que nem me chego a estrear. Na semana passada, em Valença, que é a feira mais forte, e em 22 anos de comerciante, não me estreei, não vendi uma única peça. Foi um choque porque desanimas e vês os teus colegas desesperados”, afirmou Vítor Domingues.
“TERRITÓRIO DEFINHA”
O presidente da Câmara de Monção, António Barbosa, disse que o “território está a definhar” com um único ponto de passagem na fronteira e que os testemunhos do feirante e da cabeleireira “são exemplos de como em tão pouco tempo se pode aniquilar uma economia local que vive da ponte”.
“Por esta rua passam cerca de 10 mil viaturas ligeiras por dia. É o quarto ponto de passagem entre os dois países. Neste momento não pedimos muito mais do que sobreviver. Deixem-nos sobreviver com os nossos negócios, com as nossas famílias”, afirmou o autarca social-democrata.
António Barbosa disse não haver justificação para existir, actualmente, apenas um ponto autorizado de passagem entre as duas regiões vizinhas.
“Como não é possível garantir mais pontos de passagem? Estamos a falar da sobrevivência de dois povos. Pedimos de uma vez por todas: abram mais pontos. Os meios existem. É hora de os utilizar. Se tivéssemos um evento em Braga ou no Porto, em locais com mais peso político, se calhar já haveria meios. Somos pequenos, somos poucos, mas somos humanos, somos gente com direito de viver”, frisou.
António Barbosa criticou ainda as filas de trânsito que se formam em Valença para quem atravessa a ponte para Tui.
“São filas de mais duas horas para poder passar para Espanha. Isto não pode continuar a acontecer”, reforçou, acompanhado dos autarcas de Melgaço, Valença, Paredes de Coura, Vila Nova de Cerveira e Caminha.
Do lado espanhol fizeram-se representar os autarcas de Arbo, Rosal, Tui, As Neves, Tomiño, Salvaterra do Minho. O município de La Guardia não esteve representado.
Até final da semana está prevista nova ação de protesto, desta vez na ponte internacional que liga a vila de Melgaço a Arbo.
Redacção com Rádio Alto Minho