Ao entrar na Avenida da República, no centro de Vila Verde, sente-se um cheirinho a Santo António. A rua está enfeitada com as arcadas festivas e há farturas, churros, pão com chouriço e pipocas. Faltam os carrosséis, os palcos, as multidões e a azáfama de outros tempos.
Por força da pandemia Covid-19, este ano não há Festas Concelhias de Santo António em Vila Verde. Os concertos, os cortejos e as corridas de cavalos não se vão realizar, havendo apenas uma comemoração simbólica, este domingo de manhã, com a celebração de uma missa na Igreja Paroquial.
Mas nem tudo se perdeu.
É verdade que a chuva também não ajuda, mas nas ruas há o tal espírito antonino espalhado nas barraquinhas de farturas, de pão com chouriço, de pipocas e na venda de discos musicais.
“Não há festa, mas há ilusão de festa”, resume Guilhermina Rego, das ‘Farturas Ana Sofia’, que aproveita estes dias para fazer o negócio possível em tempos de pandemia.
“Apesar de não haver festa, as pessoas vêm ao centro da vila e acabam por vir comer uma fartura. Tenho trabalhado relativamente bem, melhor do que estava à espera. Mas este é um tempo de grandes dificuldades para todos nós, em especial para os divertimentos, porque os carrosséis estão parados”, diz.
“GANHAR DINHEIRO PARA COMER”
O cancelamento das festas e romarias, por causa da pandemia, deixou os vendedores itinerantes com muitas dificuldades para terem rendimentos, como sublinha Maria dos Anjos, enquanto monta a banca da barraquinha ‘Vítor Manuel’ para receber os primeiros clientes do dia.
“Estivemos quase 10 meses parados. Normalmente, parámos em Outubro e voltamos na Páscoa. Este ano não aconteceu. Esta é a primeira festa que estamos a fazer este ano e é nestas condições… sem festa”, explica.
O objectivo, assegura, «é fazer dinheiro para pôr comida na mesa». «Ficamos completamente sem rendimentos», reitera.
As dificuldades são frisadas por Filipe Gonçalves, do ‘Senhor e Senhora Chouriço’, que montou a banca junto à Biblioteca Municipal para “manter a tradição” e procurar fazer algum dinheiro depois de longos tempos sem essa possibilidade.
“É uma fase complicada para o nosso sector. Durante este período tive de me dedicar à venda de outros produtos, como fruta e legumes, para poder compensar alguns dos gastos e o dinheiro que não foi feito nas festas”, conta.
Sobre este Santo António, as previsões não são muito optimistas. “Obviamente não vai ter nada a ver com os anos anteriores. Mesmo a disposição das pessoas não é a mesma, o que também acaba por ser normal devido a toda esta situação”, aponta.
A MÚSICA QUE NUNCA FALTA
Numa festa tradicional, há algo que (quase) nunca falta: o ‘stand’ da venda de discos musicais, que anima e entretém o povo.
Francisco Malheiro e a sua ‘Disco Dance’ são, há muito tempo, presença assídua no centro de Vila Verde – e é lá que estão também por estes dias.
“Acho que as pessoas ainda estão com um bocado de medo de sair à rua e isso também não ajuda”, diz, partilhando da visão pessimista sobre esta quadra. “O Santo António vai ser mau, mas espero que em Agosto as coisas melhorem, até mesmo com a vinda dos emigrantes”, realça.
Reportagem: Ricardo Reis Costa (CP 6811-A) e Pedro Nuno Sousa
Fotografia: Pedro Nuno Sousa