As 2.750 toneladas de nitrato de amónio que explodiram esta semana destruindo metade da cidade de Beirute, capital do Líbano, destinavam-se à Fábrica de Explosivos de Moçambique (FEM), propriedade da empresa Moura, Silva & Filhos, da Póvoa de Lanhoso, avança a edição deste domingo do jornal Público.
Um porta-voz da empresa garante ao diário que a carga ainda não era da empresa lanhoense, porque só seria paga após a chegada à cidade da Beira, no norte de Moçambique.
“O nitrato [de amónio] não era da empresa. Era do vendedor. Seria vendido à FEM quando chegasse a Moçambique”, diz ao Público o porta-voz da empresa minhota, presente naquele país desde 1999.
“Esta foi uma encomenda normal, de uma matéria que a empresa utiliza na sua actividade comercial”, esclarece, garantindo que a FEM cumpre “sempre de forma escrupulosa todos os requisitos legais e melhores práticas internacionais”.
Também ao Jornal Económico, uma fonte da FEM sublinha que “nunca paga qualquer carga antes de esta lhe ser entregue”, deixando claro que, até à recepção, não tem qualquer responsabilidade sobre a mesma.
“A FEM está no mercado desde 1955 e nunca teve qualquer problema com manuseamento dos produtos que importa”, afirmou a fonte, dando conta que fornece “em segurança clientes por toda a costa oriental de África”.
O nitrato de amónio destinava-se à Beira, adianta o Público, por ser aí que se encontra o centro de recepção de explosivos, sendo depois transportados para o Dondo, a 28 km de distãncia, onde ficam os armazéns de segurança. O destino seria Tete, para norte e para o interior, onde se realizam as operações de transformação.
A empresa não adianta qual o fim da carga, já que o produto pode ser utilizado que para fertilizante, quer para explosivos.
O Público, contudo, avança com a possibilidade de o nitrato ter como destino final as minas de carvão daquela província, onde estão presentes grandes mineradoras internacionais.
Segundo a BBC, as 2.750 toneladas de nitrato de amónio saíram do porto de Batumi, na Geórgia, rumo à Beira, a bordo do navio Rhosus, proprietário de um empresário russo. Na escala no porto de Beirute, em Setembro de 2013, devido à falta de segurança da embarcação, a carga foi transferida para um armazém, onde ficou durante seis anos, em condições que não reuniam as condições de segurança exigíveis para um material altamente explosivo.
Na passada terça-feira, o nitrato de amónio acabou por explodir, devastando bairros inteiros e provocando pelo menos quase duas centenas de mortos e 6.000 feridos.
Fernando Gualtieri (CP 1200)