Se o vencedor do único debate que opôs os candidatos à vice-presidência dos Estados Unidos fosse definido pela atenção que gerou nas redes sociais, o mais votado seria… uma mosca.
Esta quinta-feira de madrugada o vice-presidente republicano Mike Pence e a senadora democrata Kamala Harris discutiram sobre a administração Trump, racismo ou a pandemia de covid-19, mas quem estava a assistir ao debate a partir de casa não pode deixar de reparar no pequeno insecto.
Nas últimas horas foram escritos milhares de comentários sobre a dita mosca e já há centenas de novas contas no Twitter intituladas ‘mosca na cabeça de Mike Pence”, muitas delas com milhares de seguidores.
Alheio ao facto de que outra figura lhe roubava os holofotes, Joe Biden defendeu a política de “lei e ordem” da administração Trump face à brutalidade policial com uma mosca pousada na cabeça durante mais de dois minutos.
Só mais tarde reagiu com humor ao sucedido, publicado no Twitter uma fotografia com um mata-moscas e um trocadilho: “Doe 5 dólares para ajudar esta campanha a voar” (em inglês, ‘fly’ é palavra homónima para mosca e voar).
Na sua página de campanha também esteve à venda, por dez dólares, um mata-moscas com a inscrição “Truth over Flies” (verdade em vez de moscas, numa tradução literal) que já esgotou.
TRANSMISSÃO DE PODER
Agora a sério. O vice-Presidente norte-americano, Mike Pence, não se comprometeu com uma transferência pacífica de poder caso o oponente do Presidente Donald Trump, o candidato democrata Joe Biden, vença as presidenciais de 3 de Novembro.
“Em primeiro lugar, penso que vamos vencer esta eleição”, afirmou Pence, durante o único debate de candidatos à vice-presidência, que terminou esta madrugada em Salt Lake City, Utah.
A moderadora Susan Page tinha questionado o vice-Presidente e candidato republicano sobre qual será o seu papel no caso de o Presidente norte-americano, Donald Trump, se recusar a aceitar uma derrota nas eleições.
Quando se fala em aceitar o resultado de uma eleição, o vosso partido passou os últimos três anos e meio a tentar anular os resultados da última eleição. É incrível”, disse Pence, numa referência ao processo de destituição aberto pelos democratas no final de 2019, e à investigação do procurador especial Robert Mueller.
Mike Pence afirmou que acredita numa vitória porque “o Presidente Donald Trump lançou um movimento de americanos de todos os tipos” e serão os mesmos eleitores que lhe deram a vitória em 2016 que o reconduzirão à Casa Branca, em 3 de Novembro. “O movimento só se tornou mais forte”, considerou Pence.
“FRAUDE EEITORAL”
O vice-Presidente também abordou a questão da integridade dos votos por correspondência, que Donald Trump tem acusado de conduzirem a fraudes em massa.
“Eu e o Presidente Trump estamos a lutar diariamente nos tribunais para evitar que Joe Biden e Kamala Harris mudem as regras e criem uma votação postal universal, que irá criar uma oportunidade maciça para fraude eleitoral”, afirmou.
Quando questionada sobre o que fará se Biden ganhar e Trump se recusar a sair da Casa Branca, a candidata democrata à vice-presidência também foi pouco clara. Kamala Harris optou por apelar aos cidadãos para que não deixem de ir votar, que façam um plano para garantirem que o voto é contado nestas eleições.
“Temos o poder de tomar a decisão sobre qual será o caminho do nosso país pelos próximos quatro anos”, disse Harris. “Vamos ganhar e não vamos deixar ninguém subverter a nossa democracia”, continuou, acusando Trump de ter tentado “suprimir o voto” abertamente com as declarações que fez na discussão com Joe Biden.
Num debate histórico, e na primeira vez que uma mulher de origem indiana e jamaicana enfrenta o vice-Presidente como candidata ao cargo, Kamala Harris e Mike Pence deixaram claro que as suas plataformas são diametralmente opostas.
CLIMA
A discussão foi mais centrada em políticas concretas que o debate entre Biden e Trump e centrou-se na pandemia de covid-19, nos planos económicos e na recessão causada pela emergência sanitária, na reforma da polícia, no Tribunal Supremo e na crise climática.
Nesta última questão, Mike Pence caracterizou a abordagem da actual administração como baseada na ciência, algo que Kamala Harris disse ser o oposto da realidade.
“O clima está a mudar. A questão é qual a causa e o que faremos sobre isso”, disse Pence.
“O Presidente Trump deixou claro que vamos continuar a ouvir a ciência”, acrescentou o governante, que aproveitou para criticar as medidas “verdes” defendidas pelos democratas, dizendo que o ‘Green New Deal’ ia “esmagar a indústria energética” do país e acabar com os empregos de muitos norte-americanos.
Pelo contrário, argumentou Harris, o plano de Biden vai criará muitos novos empregos nas energias renováveis e sustentáveis.
JUSTIÇA
Mike Pence também criticou o passado de Kamala Harris como procuradora distrital de São Francisco e procuradora-geral da Califórnia, dizendo que não conseguiu implementar qualquer reforma no sistema de justiça criminal.
Em resposta, Harris disse que não aceitava lições de Pence nesta matéria. A candidata enumerou algumas reformas e salientou ser a única pessoa em palco com experiência de procuradora.
“O trabalho que fiz como procuradora-geral é um modelo daquilo que a nação precisa de fazer”, declarou.
Durante hora e meia de debate, moderado pela jornalista do USA Today Susan Page, Pence interrompeu Harris algumas vezes, levando-a a reclamar que ele a deixasse acabar de falar. No entanto, o tom da discussão foi bastante menos acintoso que o debate que opôs os candidatos à Casa Branca, Donald Trump e Joe Biden, em 29 de Setembro.
Os próximos debates entre Biden e Trump são a 15 e 22 de Outubro. Apesar da doença do Presidente, nenhum foi desmarcado.
Redacção com TSF