A subdiretora-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Mariângela Simão, admitiu esta terça-feira que se verifica um “certo pânico” na Europa devido aos casos que levaram à suspensão, por precaução, da vacina da AstraZeneca contra a covid-19.
“Há um certo pânico e uma tomada relativamente rápida de decisão de suspender [o uso da vacina] – em alguns países foi a suspensão apenas de alguns lotes -, enquanto a OMS e a própria Agência Europeia do Medicamento (EMA, na sigla em inglês) estão a dizer claramente, que neste momento, é preciso investigar melhor”, afirmou a responsável da OMS para a área do acesso a medicamentos.
Num debate online promovido pela agência Lusa, Mariângela Simão adiantou que a OMS e a EMA consideram que, face aos benefícios já comprovados, o risco de não tomar a vacina “é muito pior”, razão pela qual o fármaco da AstraZeneca deve continuar a ser administrado “até que as investigações terminem”.
“Provavelmente até final desta semana já teremos um perfil geral de todos os casos” registados em vários países europeus e que levaram à suspensão da vacina, adiantou a médica, ao assegurar que os relatórios de agências regulatórias de outras partes do mundo “não mostraram nenhuma correlação” entre os eventos tromboembólicos e a administração da vacina.
Perante isso, trata-se de uma “mistura de pânico com uma medida de precaução em suspender a vacinação”, mas é importante que as “pessoas tenham confiança nos mecanismos existentes” de confirmação da segurança e eficácia das vacinas contra a covid-19, referiu.
“Quando se fala de segurança e de eficácia das vacinas, as pessoas podem ter a certeza que não se tomou nenhum atalho e não se cortou nenhuma etapa nos estudos clínicos que levaram à autorização das vacinas que estão no mercado”, assegurou a subdiretora-geral da OMS a partir de Genebra.
Neste debate no âmbito da iniciativa dos ‘Encontros Lusa Online’, Mariângela Simão adiantou ainda que, no caso destes fármacos contra a covid-19, algumas farmacêuticas iniciaram a produção de vacinas antes de ser autorizada, o que lhes permitiu ter “algum produto para ser colocado no mercado” no momento em que foi dada a autorização para uso de emergência.
“Todas as medidas de segurança e eficácia nos ensaios clínicos foram observadas”, garantiu a responsável da organização com sede na Suíça, salientando que os casos de tromboembolias “ocorrem na população em geral” e são mesmo a “terceira causa de doença cardiovascular no mundo”.
No caso da AstraZeneca, “há que esperar os resultados desta avaliação em profundidade que a OMS e a EMA estão a fazer. Toda a vacina, seja ela nova ou antiga no mercado, tem efeitos colaterais”, preconizou Mariângela Simão, ao reconhecer que a suspensão da vacina “pode criar mais elementos para as pessoas hesitarem” em ser vacinadas.
Na segunda-feira, as autoridades de saúde portuguesas decidiram suspender o uso da vacina da AstraZeneca contra a covid-19 por “precaução”.
A decisão foi anunciada pela Direção-Geral da Saúde (DGS) e pela autoridade do medicamento (Infarmed) e surge após vários países europeus também já terem suspendido a administração desta vacina devido a relatos de aparecimento de coágulos sanguíneos em pessoas vacinadas.
Espanha, Itália, Alemanha, França, Noruega, Áustria, Estónia, Lituânia, Letónia, Luxemburgo e Dinamarca, além de outros países, incluindo fora da Europa, já interromperam por “precaução” o uso da vacina da AstraZeneca, após relatos de casos graves de coágulos sanguíneos em pessoas que foram vacinadas com doses do fármaco da AstraZeneca.
A empresa já disse que não há motivo para preocupação com a sua vacina e que houve menos casos de trombose relatados nas pessoas que receberam a injecção do que na população em geral.
Redacção com Executive Digest