A diplomacia da União Europeia (UE) criticou esta quarta-feira a formação do novo Governo afegão por não ser “nem inclusivo nem representativo” da diversidade étnica e religiosa, vincando que não corresponde “ao que os Taliban prometeram nas últimas semanas”. Entretanto, o grupo político dos Socialistas & Democratas (S&D), de que o PS faz parte, no Parlamento Europeu (PE) nomeou esta quarta-feira um colectivo de mulheres no Afeganistão para o prémio Sakharov 202.
“Após uma primeira análise dos nomes anunciados, esta não se assemelha à formação inclusiva e representativa da rica diversidade étnica e religiosa do Afeganistão que esperávamos ver e que os Taliban prometeram nas últimas semanas”, indica em comunicado um porta-voz da diplomacia da UE.
Depois de os ministros dos Negócios Estrangeiros da UE terem, na semana passada, salientado a necessidade de o Afeganistão ter um governo de transição “inclusivo e representativo”, o porta-voz recorda na nota divulgada esta quarta-feira que esta foi “uma das cinco condições estabelecidas” para o estabelecimento de relações entre o bloco europeu e o novo governo afegão.
Numa reacção oficial, os Estados Unidos também denunciaram a ausência de mulheres e manifestaram “preocupação” pelas “filiações e os antecedentes de alguns desses indivíduos”, apesar de indicar que devem ser avaliados “pelos seus actos”.
A comunidade internacional advertiu que julgará o movimento fundamentalista pelas suas acções, nomeadamente quanto às promessas de respeitarem os direitos das mulheres.
De regresso ao poder desde meados de Agosto, os Talibãs apresentaram na terça-feira um Governo que não é nem “inclusivo” nem “representativo” da diversidade étnica e religiosa do Afeganistão, lamentou a União Europeia (UE), na mais severa crítica de Bruxelas dirigida ao atual regime.
O novo executivo, apresentado esta terça-feira, integra diversas personalidades talibãs já muito influentes há duas décadas, quando os islamitas impuseram um estrito regime fundamentalista entre 1996 e 2001.
Todos os membros deste Governo, dirigido por Mohammad Hassan Akhund — um antigo colaborador próximo do ‘mullah’ Omar, fundador do movimento e que morreu em 2013 –, são talibãs. E quase todos pertencem à etnia pashtun.
Diversos dos novos ministros estão incluídos nas listas de sanções da ONU, e quatro estiveram detidos na prisão norte-americana de Guantánamo, na ilha de Cuba.
Mohammad Hassan Akhund é conhecido por ter aprovado a destruição, em 2001, dos budas gigantes de Bamyain (centro do país), segundo indicou Bill Roggio, chefe de redacção do Long War Journal.
Abdul Ghani Baradar, co-fundador do movimento, assume a pasta de vice-primeiro-ministro, e o ‘mullah’ Yaqub, filho do mullah Omar, o ministério da Defesa.
A pasta do Interior foi atribuída a Sirajuddin Haqqani, definido por Washington como terrorista e historicamente próximo da Al-Qaeda.
Ao anunciar o Governo, o porta-voz talibã, Zabihullah Mujahid, afirmou que “não estava completo” e que o movimento tentaria incluir “pessoas provenientes de outras regiões do país”.
Socialistas e Democratas do Parlamento Europeu
nomeiam mulheres afegãs para prémio Sakharov
Entretanto, grupo político dos Socialistas & Democratas (S&D) no Parlamento Europeu (PE) nomeou esta quarta-feira um colectivo de mulheres no Afeganistão para o prémio Sakharov 2021, pedindo às restantes famílias políticas que apoiem esta escolha.
Segundo a TSF, entre os nomes que compõem, para já, este colectivo, estão os de Shaharzad Akbar, Sima Samar, Metra Mehran, Mary Akrami, Palwasha Hassan, Freshta Karim, Horia Mosadiq, Habiba Sarabi e Fatima ‘Natasha’ Khalil (postumamente).
Apesar de conhecidos estes nomes, a lista pode ainda aumentar.
Segundo uma nota de imprensa do S&D, o grupo – que inclui os eurodeputados eleitos pelo PS – o colectivo de afegãs que inclui “activistas, políticas, jornalistas e professoras que têm lutado pelos direitos das mulheres, incluindo nos campos da educação e da participação política, e fizeram elas próprias parte da vida política e associativa no Afeganistão antes de os Taliban tomarem o controlo” do país.
Os S&D apelam ainda a todos os outros grupos políticos no PE para que apoiem esta nomeação para o prémio que a instituição atribui anualmente para homenagear a liberdade de pensamento.
“Devemos utilizar todos os meios possíveis para colocar a questão das mulheres e raparigas afegãs no topo da agenda internacional, para proteger os seus direitos e para proteger os ganhos que foram feitos para as mulheres afegãs nos últimos 20 anos”, refere ainda o comunicado.
Maria Manuel Leitão Marques, eurodeputada socialista, adiantou à TSF que, entre as várias propostas que lhe chegaram, estavam os nomes do bispo de Pemba e os presos em Nicarágua, mas a escolha dos eurodeputados acabou por recair no colectivo de mulheres afegãs, sendo que a maioria continua a viver no Afeganistão.
O significado da escolha para este prémio, segundo a eurodeputada, foi “não deixar esquecidas as mulheres que não puderam sair do seu país ou não quiseram sair do seu país, mas lá continuam a desejar ser ajudadas na luta pelos seus direitos. É importante que não as esqueçamos na ajuda humanitária”.
Em 2020, o prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento, no valor de 50 mil euros, foi atribuído à oposição democrática na Bielorrússia.
Entregue pela primeira vez em 1988 a Nelson Mandela e Anatoli Marchenko, o prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento é um tributo prestado pela UE ao trabalho desenvolvido em prol dos direitos humanos.
O ex-presidente timorense Xanana Gusmão (1999) e o bispo emérito do Lubango (Angola) Zacarias Kamwenho (2001) integram a lista de laureados.
Redacção com TSF e MadreMedia