A abstenção dos estudantes universitários foi um dos temas que dominou a apresentação, esta quinta-feira, no Museu Nogueira da Silva, em Braga, do livro ‘A Democracia Local em Portugal, de António Cândido de Oliveira.
Na conversa, a primeira das três incluídas na programação da Semana da Democracia, organizada pelo Movimento Cidadania contra a Indiferença, o professor universitário confessou-se “chocado” com a abstenção dos estudantes do ensino superior.
“Esta é a abstenção que mais me choca”, afirmou, uma ideia que, após o encontro, desenvolveu aos microfones da Rádio Universitária do Minho (RUM).
“Os estudantes têm um papel importante na condução da academia e a percentagem dos que votam é quase insignificante, abaixo dos dois dígitos”, lamentou.
Para Cândido de Oliveira, esta é uma matéria a merecer uma profunda reflexão: “Temos que pensar nisso”.
“A democracia na universidade deve ser um exemplo e parece-me que não é, por parte dos estudantes”, sublinhou à Universitária.
“Uma coisa que me impressiona é que as pessoas chegam às universidades e não sabem distinguir uma Câmara de uma Assembleia, não sabem quais são os órgãos de soberania, e isto é um bocadinho de pedagogia, porque é uma maneira simples de o dizer”, acrescentou, referindo que a obra também ainda o objectivo de pôr “as pessoas a questionar um conjunto de coisas para que tenham uma cidadania mais consciente e mais informada”.
É também neste contexto que surge a obra. ‘A Democracia Local em Portugal’, diz o autor, é, assim, “uma forma pedagógica” e simples de abordar o tema.
O título – editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos – chama a atenção para os sites dos municípios, “que têm sido mal interpretados e não têm o conteúdo que devem ter”, bem como para “o papel da oposição na democracia”.
“Não há democracia sem oposição”, afirmou à RUM, o autor de ‘Democracia Local em Portugal’, uma obra aborda o poder democrático regional desde o século XIX, o papel dos cidadãos, a organização e acção de municípios e freguesias, as regiões administrativas adiadas, o associativismo e as entidades intermunicipais.
INVERTER CICLO
Já Paulo Sousa, do ‘Cidadania contra a Indiferença’, lembrou que a abstenção e o deficit de participação cidadã, “está hoje no centro das preocupações dos órgãos da Comissão Europeia”, ao contrário do que sucedia, “invertendo um ciclo inteiramente obreiro e pouco condizente com os fundamentos da criação da União Europeia e das orientações do Conselho da Europa e dos princípios explanados na Carta Europeia de Autonomia Local, em 2001”.
“Já lá vão vinte anos e continuamos em Portugal a assistir a uma cristalização da acção cívica que não pode ser resumida ao ciclo eleitoral que, como todos bem sabemos, acaba por ser o espelho da indiferença”, acrescentou.
“Os males da Democracia combatem-se com mais Democracia”, rematou o ex-jornalista, citando o político norte-americano, Alfred Emanuel Smith.
Fernando Gualtieri (CP 7889 A)