A partir de Braga, o país testemunhou um apelo inédito: pela primeira vez, em quase meio século de democracia, um sector de actividade dá a cara por um veemente apelo ao voto, à participação cívica, contra a abstenção em nome de “mais e melhor democracia”.
Aconteceu esta quarta-feira – Dia Internacional da Democracia – em frente aos Paços de Concelho de Braga, um local simbólico do poder político da cidade.
Os protagonistas foram a Associação Empresarial do Minho (AEMinho) e Associação Empresarial de Braga (AEBraga), parceiras de “primeira hora” do Movimento Cidadania Contra a Indiferença, nascido há quase de meio ano na cidade, e que tem entre os seus objectivos, recordou Paulo Sousa, em conferência de imprensa, combater a abstenção “crónica”, incentivando o voto e a participação cidadã.
Domingos Macedo Barbosa, responsável máximo da AEBraga, defende que Portugal tem que inverter a situação “assustadora” das elevadas taxas de abstenção “em nome da qualidade da democracia”.
Para trás, recordou, ficaram os tempos pós-Abril, quando muitos faziam dezenas de quilómetros para ir votar aos seus concelhos, como o próprio fez, entre Lisboa e Braga.
Também Ricardo Costa, ‘patrão’ dos patrões minhotos alertou para os dados que apontam a juventude como sendo a faixa etária mais abstencionista e mais afastada da participação cívica.
“É importante chamar os jovens porque são eles os principais destinatários das decisões tomadas agora”, disse, subscrevendo o alerta de Domingos Macedo Barbosa: “o acto eleitoral é mais importante para os mais jovens do que para os mais velhos, porque o destino do país está nas suas mãos”.
HISTÓRICO
Já em conversa com o PressMinho, Ricardo Costa revelou “não ter memória” de alguma vez os empresários terem feito um apelo semelhante.
“A ser assim, esta é uma iniciativa histórica do mundo empresarial”, disse, frisando a importância que o sector dá participação nos actos eleitorais. Lembra que a atenção para o fenómeno das duas entidades já se manifestou em campanhas feitas junto dos associados e dos seus “milhares de trabalhadores”, também em parceria com o Cidadania contra a Indiferença.
O empresário, presidente da AEMinho, sustenta que menos abstenção significa “mais e melhor” e “mais exigência” na hora de escolher os representantes políticos e as suas propostas, logo “uma maior qualidade da nossa democracia”.
Assim, como Domingos Macedo Barbosa, Ricardo Costa também argumenta que “melhor de democracia é melhor economia”, fundamental para um mais que em muitos sectores “está na cauda da Europa”.
Igualmente como o presidente da AEBraga, o empresário desconhece as razões que levam à abstenção.
“Não verdade desconhecemos a razão”, realça, convicto que com a deserção do direito ao voto se manifesta em “políticos menos capazes” e, consequentemente, “em maior desconfiança em relação à classe política”.
Se este caminho abstencionista não for revertido, o resultado “avisa, uma “é democracia sem urnas” e “uma democracia sem qualidade”.
Os números da abstenção mais recentes revelam, o tal panorama “assustador” de que fala Domingos Macedo Barbosa: a taxa é de mais de 40% nas Legislativas e Autárquicas, subindo para a fasquia dos 70% quando se tratam de eleições Presidenciais e Europeias.
Fernando Gualtieri (CP 7889 A)