O presidente da Cáritas Portuguesa diz que o drama do desemprego tem de ser assumido como uma prioridade por todos os sectores da sociedade, caso contrário dificilmente o problema terá uma “diminuição convincente”.
Num texto enviado hoje à Agência ECCLESIA, Eugénio Fonseca alerta que os apoios comunitários que Portugal receberá até 2020 não podem ser vistos como uma tábua de salvação.
“Mesmo que sejam bem aplicados, não resolverão todos os problemas, e provavelmente deixarão um vazio financeiro incontrolável depois de 2020, com graves consequências económico-sociais”, frisa aquele responsável.
O presidente da Cáritas Portuguesa reconhece que a preocupação pela escalada dos números em Portugal tem sido “enorme”, e têm sido muitas as “políticas” e “estatísticas“ difundidas sobre a questão, por parte dos “diferentes governos”.
No entanto, esta “ameaça” social parece “continuar indefinidamente”, impondo-se mesmo falar de “desemprego endémico, inserido na economia e na sociedade portuguesas”.
“Até existem motivos fundamentados para surgirem agravamentos da situação actual; a competitividade económica global, os aumentos de produtividade, o desconhecimento de oportunidades de negócios lucrativos, as dificuldades de financiamento, as crises económico-financeiras”, recorda Eugénio Fonseca.
Para o presidente da Cáritas Portuguesa, “no meio de tamanha gravidade, é chocante que não sejam adoptadas as medidas que estão ao alcance de todas as populações, mesmo sem recursos financeiros”.
Aquele responsável recorda a encíclica do Papa João Paulo II “Laborem Exercens, 1981”, sobre o trabalho humano, em consonância com “a Organização Internacional do Trabalho e outras entidades” onde Karol Wojtyla apontava para a necessidade de “uma verdadeira planificação global a favor da solução dos problemas de emprego”.
“Esta planificação” ,cita Eugénio Fonseca, “em vez de marcada pela centralização” no papel do Estado, “basear-se-ia na iniciativa das pessoas, dos grupos livres, dos centros e dos complexos de trabalho locais (…) e deveria ser indissociável da solicitude, também global”.
“No fundo, seriam as populações e suas organizações com as autarquias locais e com o Estado central que, a partir da base, tomariam consciência dos problemas de emprego e das potencialidades de solução, e tomariam as iniciativas necessárias para as respectivas soluções”, complementa.
Sobre esta mesma estratégia, o Papa Bento XVI considerou em 2009, na sua encíclica “Caritas in Veritate”, que João Paulo II lançara as bases “para uma coligação mundial em favor do trabalho digno”, impulsionando os objectivos da Organização Internacional do Trabalho.
“Infelizmente, entre nós, as autoridades, a sociedade civil e os cristãos têm ignorado esta estratégia e aquele apelo. Até quando?”, questiona o presidente da Cáritas Portuguesa.
FG (CP1200) com Ecclesia