O telescópio espacial mais potente alguma vez construído partiu este sábado dia de Natal, ao fim de mais de 30 anos de espera. Esta jóia da engenharia vai explorar o Universo até quase às suas origens, até há cerca de 13 mil milhões de anos.
Projecto conjunto da NASA/ESA (Agência Espacial Europeia/CSA (agência espacial do Canadá), o telescópio espacial James Webb será o próximo grande observatório de ciências espaciais para resolver os mistérios do Sistema Solar, explorar mundos distantes ao redor de outras estrelas e descobrir as origens do Universo.
O seu lançamento estava previsto para Março de 2021, mas a pandemia obrigou ao adiamento. Foi finalmente lançado este sábado, às 12h20 (hora de Lisboa), a bordo de um de um foguetão de fabrico europeu Ariane 5 a partir da base europeia de Kourou, na Guiana Francesa.
A peça central é um enorme espelho que mede 6,6 metros de diâmetro e é constituído por 18 espelhos hexagonais, feitos de berílio e revestidos a ouro para melhor reflectir a luz capturada dos confins do Universo.
O observatório tem quatro instrumentos científicos: para tirar fotos do cosmos e espectrómetros, que decompõem a luz para estudar as propriedades químicas e físicas dos objectos observados.
O espelho e os instrumentos são protegidos por um enorme ‘chapéu de sol’, composto por cinco camadas sobrepostas. Do tamanho de um campo de ténis, são finos como um cabelo e feitos de Kapton, um material escolhido por sua resistência a temperaturas extremas: um dos lados estará acima de 110 ° C enquanto no outro estão -235 ° C.
A bordo segue ainda um módulo de serviço com o sistema de propulsão e comunicação. No total, o observatório pesa o equivalente a um autocarro.
O telescópio será colocado em órbita a 1,5 milhão de quilómetros da Terra, quatro vezes a distância do nosso planeta à Lua.
Ao contrário do telescópio Hubble, que gira em torno da Terra, James Webb estará na órbita do Sol. Estará em constante alinhamento com o Sol e a Terra e o seu espelho estará constantemente de costas para a nossa estrela.
Demorará cerca de um mês para chegar a esta posição, chamada ponto de Lagrange L2. A esta distância, não será possível nenhuma missão de reparação, tal como aconteceu com o Hubble.
Como o telescópio era grande demais para caber num foguetão, foi dobrado sobre si mesmo. E é esta a parte mais complicada da missão: o desdobramento do telescópio no espaço.
Seis dias depois do lançamento, já muito depois de ter passado a Lua, será iniciada a instalação do ‘chapéu de sol’, até então dobrado como um acordeão. Os ‘braços’ extremamente finos serão guiados por um complexo mecanismo que envolve 400 polias e 400 metros de cabo.
Durante a segunda semana, será a vez da instalação do espelho. Quando alcançada a configuração final, os instrumentos vão precisar de ser arrefecidos e calibrados e os espelhos ajustados com extrema precisão.
Ao fim de seis meses de preparativos, o telescópio espacial James Webb estará pronto para olhar para os confins do Universo.
MISSÃO
O telescópio espacial James Webb tem duas missões científicas importantes, que vão representar mais de 50% do tempo de observação.
Primeiro, explorar as primeiras idades do Universo, voltando apenas algumas centenas de milhões de anos após o Big Bang. Os cientistas querem observar as primeiras galáxias e as primeiras estrelas.
A sua segunda grande missão será estudar exoplanetas, ou seja, planetas em órbita de outras estrelas como o nosso Sol, à procura de um ambiente potencialmente habitável.
A grande novidade deste telescópio é que tem capacidade para regista luz infravermelha, conseguido ver através de nuvens de poeira impenetráveis para o Hubble, que tem uma pequena capacidade infravermelha, regista principalmente luz visível e ultravioleta.
Também estão planeadas observações mais próximas, no nosso sistema solar, como de Marte ou de Europa, uma lua de Júpiter.
O projecto foi lançado na década de 1990 e a construção iniciou-se em 2004. A descolagem foi muitas vezes adiada: primeiro estava prevista para 2007, depois para 2018, 2020 e agora Dezembro de 2021
O observatório é o resultado de uma imensa colaboração internacional e integra instrumentos canadianos e europeus. Mais de 10.000 pessoas trabalharam no projecto, cujo orçamento explodiu, a um custo que finalmente se aproximou de cerca de 10 mil milhões de dólares.
Está previsto que trabalhe durante 5 anos, mas tem potencial para chegar aos 10 anos no espaço.
Redacção com TSF