A invasão da Ucrânia, iniciada na quinta-feira pelo presidente russo Vladimir Putin, provocou uma onda de sanções internacionais contra Moscovo. O conflito também pode ter implicações por cá — e não é só nos preços da energia.
O ataque foi de imediato condenado pela generalidade da comunidade internacional — e as sanções aplicadas à Rússia depressa começaram a surgir, mas qual impacto no bolso dos portugueses?
O preço dos cereais nos mercados mundiais deve sofrer um forte impacto com as tensões entre a Ucrânia e a Rússia, nomeadamente o trigo, dado o peso das exportações destes países.
“Por enquanto existe apenas uma subida com algum impacto, por exemplo no trigo, que passou dos 740 [dólares] para os 850 [dólares] em Fevereiro. [Com] um conflito militar é provável que a subida se transforme no aumento extraordinário e talvez inédito, que causará muitas dores de cabeça a transformadores, mas principalmente aos consumidores”, antecipa Mário Martins, membro do conselho de administração da correctora ActivTrades CCTVM.
Henrique Tomé, analista da correctora XTB, destaca que “tanto a Rússia como a Ucrânia têm um papel importante no que diz respeito à exportação de cereais à escala mundial”, com “ambos os países a representarem cerca de 30% da exportação”.
Assim, com conflito armado, “os preços de determinadas matérias-primas, além do petróleo e gás natural, poderão subir substancialmente. Como por exemplo, o preço do trigo, que por sua vez terá um impacto sobre os bens alimentares pagos pelos consumidores”, refere.
Além do trigo, Mário Martins alerta que também o milho deve registar uma subida de preços, uma vez que a Ucrânia é o sexto maior produtor mundial, “sendo responsável por 16% das exportações globais de grãos”.
Para o analista, a oscilação de preços dos cereais “dependerá do resultado do impasse”, considerando que “no pior cenário” será “substancialmente maior, desde logo porque alia a questão do aumento de custos energéticos, dado que o preço do petróleo irá disparar também”.
Quanto à questão dos combustíveis, o Governo português já assegurou que está salvaguardado o abastecimento dos sistemas nacionais de gás e de petróleo, caso a Rússia corte o fornecimento à União Europeia.
“A garantia do abastecimento do Sistema Nacional de Gás e do Sistema Petrolífero Nacional estão salvaguardadas, merecendo e tendo, necessariamente, o acompanhamento próximo e constante pelo Governo e demais entidades competentes”, lê-se numa nota enviada esta quinta-feira às redacções pelo Ministério do Ambiente e da Acção Climática.
O Governo lembrou que em 2021 apenas 10% das importações de gás natural (GN) em Portugal foram provenientes da Rússia, “pelo que não se antevê que uma potencial interrupção do fornecimento por parte da Rússia represente uma disrupção no fornecimento de GN a Portugal”.
No que diz respeito ao gás natural liquefeito (GNL), que entra em Portugal através do terminal de Sines, o executivo realçou que não foram registadas quaisquer falhas nas entregas programadas, nem alterações à calendarização de entregas para Fevereiro e Março.
Já quanto ao petróleo bruto (crude) e derivados, “não se anteveem problemas de abastecimento, dado que Portugal não importa crude da Rússia desde o ano 2020”.
“Portugal dispõe de reservas estratégicas de crude e de combustíveis (gasolina, gasóleo e GPL), os quais, no caso dos combustíveis, são suficientes para garantir o consumo nacional durante 90 dias”, rematou o Ministério do Ambiente.
com MadreMedia