O empresário Mário Ferreira, que detém o grupo Mystic Invest, dono da Douro Azul, requereu ao Departamento Central de Investigação e Acção Penal que o constitua como arguido, depois de buscas às suas empresas, alegando que “nunca foi ouvido” no caso da venda do navio Atlântida, construído em Viana do Castelo.
Numa carta enviada pelo seu advogado ao Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) e esta quarta-feira divulgada, Mário Ferreira recordou as buscas de hoje nas “sociedades Pluris Investment, S.A., Mystic Invest, S.A. e Mystic Cruises, S.A.,” das quais é “o principal accionista e administrador”, acrescentando que, segundo a comunicação social, o comunicado do DCIAP e os mandatos de busca “está em causa mais um processo relacionado com a venda do navio Atlântida”.
“Pelo menos desde as buscas realizadas em 29 de Abril de 2016, inclusive na sua residência”, prossegue a carta, “que a existência destes processos tem sido utilizada por diversas pessoas para, na comunicação social, lançarem suspeitas e, inclusivamente, proferirem verdadeiros atentados contra a honra do requerente [Mário Ferreira], com especial destaque para as afirmações recorrentes da Senhora Dra. Ana Gomes”.
Segundo o documento, “desde 2016, o requerente nunca foi ouvido no âmbito de qualquer um destes processos, nem sequer lhe foi dirigido qualquer pedido de informação ou de documentos, nem muito menos lhe foi movido, a si/ou às empresas agora buscadas qualquer processo pela Autoridade Tributária relacionado com a aquisição e posterior venda do navio Atlântida”, garantiu.
O empresário diz ainda, segundo a carta, que “sempre se manifestou disponível para colaborar com a Justiça e, embora respeite sem reservas a autonomia e independência do Ministério Público e dos órgãos de Polícia Criminal, não pode deixar de estranhar e lamentar que, desde 2016 até ao presente, se tenha chegado a este ponto e que o seu nome esteja novamente a ser injustamente denegrido na Comunicação Social”, sem que, alguma vez tenha “sido chamado a explicar o que quer que seja”.
“Por estas razões, por lhe ser intolerável continuar a suportar as ignomínias de que tem sido alvo e continuará a ser e pela responsabilidade que lhe advém dos cargos que ocupa e do papel que assume no tecido empresarial, não resta ao requerente outra alternativa que não a de requerer a sua constituição como arguido”, adianta, pedindo às autoridades que tomem “as suas declarações com brevidade”.
“Ao fim de oito anos e desde o surgimento das primeiras insinuações públicas, nunca me foi dada a oportunidade para ser ouvido no âmbito deste processo”, diz Mário Ferreira, numa declaração hoje divulgada.
O empresário salienta que esta é uma “situação intolerável e que muito contribuiu para o empolamento deste caso”, indicando que dava assim “conhecimento público” da carta esta tarde endereçada pelo seu advogado ao Departamento Central de Investigação e Acção Penal a manifestar a sua “total e imediata disponibilidade para colaborar com a Justiça, no sentido de esclarecer cabalmente todos os factos que julguem convenientes”.
BUSCAS
O Ministério Público e a Autoridade Tributária realizaram esta quarta-feira buscas no Porto, Funchal e ainda em Malta numa investigação sobre a venda de um ferry (navio Atlântida) a uma sociedade com sede em Malta.
Fonte judicial confirmou à Lusa que uma das empresas alvo de buscas é Douro Azul, do empresário Mário Ferreira, e que em causa está o negócio de compra em 2014 do navio Atlântida aos estaleiros navais de Viana do Castelo e a sua posterior venda no ano seguinte a uma empresa com sede em Malta.
O Grupo Mystic Invest/Douro Azul tinha já manifestado “tranquilidade e total disponibilidade” para esclarecer as autoridades e facultar o “pleno acesso” à documentação e a uma auditoria interna sobre o negócio do navio Atlântida.