Coube à senegalesa Saidatina Khady Dias, mediadora intercultural na Camara bracarense e apresentadora do espectáculo ‘Portugal acolhe o Mundo’, que decorreu esta sexta-feira no Theatro Circo, em Braga, transmitir alguns dos recados de imigrantes e refugiados de diferentes nacionalidades que recebeu.
Em tom ligeiro, que o momento era de festa da interculturalidade, Khady Dias, a também fundadora da AISP – Associação dos imigrantes Senegaleses em Portugal (que hoje já apoia mais de 25 nacionalidades), foi enumerando os pedidos que traduzem as dificuldades que os imigrantes sentem em Portugal, quase todos eles tendo como destinatário o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).
O primeiro pode parecer uma brincadeira, mas é uma das queixas que mais ouvida junto desta comunidade: que o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) atenda o telefone, “o que nunca faz”, para desespero de quem precisa daquele serviço.
Tornar mais rápido o processo de legalização e de obtenção de vistos de residência ou de trabalho, é outro pedido. A este junta-se um terceiro: que o Estado, através das embaixadas, mude de procedimentos de forma a tornar também mais célere e ágil a obtenção de documentos nos países de origem, nomeadamente do registo criminal
O último, este entregue a Khady Dias por brasileiros, diz respeito à necessidade criação de uma plataforma que permita a inscrição sempre que o SEF abre os agendamentos para entrevistas.
OPORTUNIDADE PARA BRAGA
Além do primeiro-ministro, o espectáculo, que reuniu artistas refugiados e migrantes, contou ainda com a presença da ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, e de Ricardo Rio, presidente do município.
Falando, nas palavras de Ana Catarina Mendes, para uma sala cheia de “gente boa pela ajuda que dá a quem chega a Braga fugida da fome ou da guerra”, Costa ouviu Ricardo Rio aconselhar que os imigrantes “não vejam apenas em Braga uma oportunidade para uma nova vida, mas que sintam que são também uma oportunidade para Braga”.
“Para o desenvolvimento dos territórios com sociedades desenvolvidas é muito importante a integração das comunidades imigrantes, como factor de desenvolvimento e valorização económica desses territórios. É isso que tem acontecido em Braga, o que me deixa muito satisfeito”, disse.
António Costa sublinhou as palavras de Rio: “quando acolhemos aqueles que procuram uma vida melhor ou aqueles que aqui procuram segurança – como é o cado dos refugiados – estamos a enriquecer a nossa vivência colectiva enquanto sociedade”.
“A imigração é um enorme factor de riqueza”, disse, lembrando que 10 % das receitas da Segurança Social é proveniente das contribuições desta comunidade estrangeira.
PERINEUS E MEDITERRÂNEO
O primeiro-ministro recorreu à experiência imigratória portuguesa para ilustrar o que hoje acontece com as dezenas de milhares de pessoas, por vezes famílias inteiras, que procuram na Europa o alívio para a fome ou a segurança da paz.
Nas décadas de 50 e 60 – contou António Costa – aprendemos que os Perineus não foram suficientemente altos para impedir quem precisava de passar ‘a salto’ passasse ‘a salto’, e tal como os Pirenéus não foram suficientemente altos para o impedir, devemos saber que o Mediterrâneo também não é suficientemente largo para impedir que quem precisa de o atravessar o atravesse”.
“Temos que ter consciência que as sociedades europeias precisam de imigração, de recursos humanos qualificados e não qualificados, caso contrário as nossas sociedades não sobrevivem”, frisou.
Para Costa, a Europa precisa de ter “uma política migratório devidamente regulada e que construa as pontes já que não se pode travar a deslocação natural dos seres humanos”.
Fernando Gualtieri (CP 7889)