A Ordem dos Médicos pediu este domingo uma reunião urgente ao ministro da Saúde para encontrar soluções imediatas que coloquem fim ao que classifica de “grave situação que o Serviço Nacional de Saúde (SNS)” atravessa, que fecha cirurgia em Barcelos e provoca “rupturas em várias áreas” em Viana do Castelo.
Segundo a Ordem dos Médicos, a situação vivida em vários hospitais de norte a sul do país é grave e já na próxima semana haverá doentes sem acesso a cuidados de saúde, sem que o Ministério da Saúde ou a Direcção Executiva do SNS apresentem soluções concretas.
Em declarações à agência Lusa o bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, disse que esta é uma crise no Serviço Nacional de Saúde sem precedentes e que existe “uma grande falta de sensibilidade e de bom senso do Governo” relativa à necessidade de valorização e a dignificação dos médicos.
“Não tenho dúvidas nenhumas de que o que está a acontecer no momento pode tornar-se catastrófico nos próximos meses se nada for feito. É uma crise sem precedentes”, disse.
Carlos Cortes adiantou que as informações que chegam à Ordem dos Médicos é que são à volta de 25 hospitais a não conseguir assegurar áreas tão sensíveis como medicina interna, cirurgia, pediatria, cardiologia, cuidados intensivos e ginecologia e obstetrícia.
“Sabemos que a Guarda não vai conseguir assegurar a medicina interna, que Chaves está com enormes dificuldades na pediatria, em Barcelos também não vai ter cirurgia, que Viana do Castelo também corre o risco de ter rupturas em várias áreas absolutamente fundamentais para a resposta do SNS”, referiu.
Na opinião do bastonário, “tem havido uma distracção muito perigosa do Governo em relação aos recursos humanos na saúde, aos profissionais de saúde, neste caso em concreto aos médicos”.
“Não se consegue reformar o SNS, não se consegue melhorar o SNS, se não se der atenção a estas questões. Sem médicos não há Serviço Nacional de Saúde, sem valorizar os médicos não se consegue valorizar o Serviço Nacional de Saúde”, frisou.
Carlos Cortes considera que o SNS está a atravessar um momento muito difícil em termos de recursos humanos e que se perspectiva um agravamento exponencial nos próximos meses, uma vez que começa o Inverno e essa é uma época em que há mais infecções e descompensações de patologias crónicas com consequente aumento de afluência às urgências.
A reunião pedida, adiantou, visa o debate destas questões para tentar encontrar soluções que possam existir, a aplicar o mais rápido possível.
Os médicos, disse ainda o bastonário, têm atravessado momentos difíceis, nomeadamente a crise económica e o seu impacto e ainda a crise sanitária covid 19, e agora esperavam que muitas das suas difíceis condições de trabalho tivessem uma evolução positiva.
Contudo, adiantou, os médicos fazem 150 horas extraordinárias além do seu horário de trabalho, e o que está a ser-lhes pedido é que trabalhem muitas vezes mais 60 a 80 horas por semana para sustentar o SNS.
“Obviamente os médicos querem ajudar, querem poder dar esta resposta, mas a solução, concretamente, é atrair mais médicos para o SNS e fixá-los e não construir um SNS com base em horas extraordinárias”, frisou.