O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, incendiou, esta sexta-feira, as redes sociais com as palavras que transmitiu a Nabil Abuznaid, chefe da missão diplomática da Palestina em Portugal.
“Desta vez foi alguém do vosso lado que começou. Não deviam”, disse o chefe de Estado a Abuznaid, em inglês, numa visita ao Bazar Diplomático, no Centro de Congressos de Lisboa.
O chefe da missão diplomática da Palestina em Portugal, por sua vez, manifestou-se desapontado com as palavras do Presidente da República. “Se queremos ser justos, temos de condenar a violência dos dois lados, pelo menos, e de condenar a ocupação, essa é a raiz do problema. Se queremos ser justos. E o Presidente repetiu cinco vezes para a imprensa aqui o ataque de 7 [de Outubro], mas não mencionou o povo de Gaza. Isto é injusto”, declarou aos jornalistas.
CONFUSÃO
Pouco depois da troca de palavras entre Marcelo Rebelo de Sousa e Nabil Abuznaid, começaram a chover as reacções, principalmente de figuras da esquerda no país.
Porfírio Silva, membro da direcção e vice-presidente da bancada do Partido Socialista, questionou na rede social X (antigo Twitter): “Parece que o Presidente da República terá dito ao representante da Palestina em Portugal que desta vez foram alguns de vocês que começaram. Será que o Presidente da República também confunde o Hamas com os palestinianos?”
Nessa onda, Porfírio Silva pergunta se não seria razoável pedir a Marcelo Rebelo de Sousa que “não confunda o Hamas e a Autoridade Palestiniana”.
Da bancada socialista ouviu-se, também, a voz da deputada Isabel Moreira, que, na mesma rede social, questionou: “Não deviam ter começado? Quem?”
A socialista acusou Marcelo de confundir “palestinianos com o Hamas” e de dizer que “agora têm de ser moderados (os palestinianos, vítimas do Hamas, desde logo”.
“Crimes de guerra todos os dias praticados pelo Estado ocupante (Israel) e o PR diz isto? Não em meu nome”, concluiu.
“ENVERGONHA PORTUGAL”
Por sua vez, a coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, pouco demorou até partilhar a sua visão nas redes sociais. “Em Gaza, o plano de limpeza étnica é executado como punição colectiva sob um argumento – ‘alguém do lado palestiniano começou isto”. Dito por Marcelo ao embaixador da Palestina, envergonha Portugal”, escreveu Mortágua no X (antigo Twitter).
Para a líder bloquista, “duas palavras teriam bastado: cessar fogo”.
Ao lado nas críticas a Marcelo esteve a irmã da coordenadora do BE, Joana Mortágua. Também no X, questionou: “Num momento em que o mundo assiste ao horror da punição colectiva do povo palestiniano pelos crimes do Hamas, Marcelo faz questão de alinhar pela mesma bitola. ‘Não deviam ter começado’, diz Marcelo ao Embaixador da Palestina em Portugal. Deviam – quem?!”
Mais, Joana Mortágua disse que “apelar ao cessar fogo é o que se exige a Marcelo, em linha com a ONU”, acusando o Presidente da República de, com esta troca de palavras com Nabil Abuznaid, ter feito “um favor a [Benjamin] Netanyahu”.
“Israel está a cometer genocídio e vários crimes de guerra à frente dos nossos olhos. Mata à sede, à fome e à bomba homens, mulheres e crianças inocentes. Envia trabalhadores palestinos para Gaza à força, condenados à morte. Marcelo não tem uma palavra sobre os crimes de Israel?”, disse ainda a bloquista.
“ESQUECEU CONTEXTO HISTÓRICO”
O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, disse que as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa sobre este assunto são, normalmente, “palavras que correspondem a esta ideia de cumprimento das resoluções das Nações Unidas”. “Desta vez, parece que esqueceu este contexto histórico que não pode deixar de ser tido em conta”, considerou o líder comunista, em declarações aos jornalistas desde a Alameda D. Afonso Henriques, em Lisboa, esta sexta-feira.
Já o vereador do PCP na Câmara Municipal de Lisboa, João Ferreira, partiu para a rede social X (antigo Twitter) para criticar as palavras do chefe de Estado.
“Marcelo, num acto deplorável de desumanidade e de indigência moral, entendeu revisitar a teoria do vácuo, à sua maneira, tendo o descaro de dizer a milhares de vítimas de uma chacina programada em curso ‘tenham paciência, mas estavam a pedi-las’. Que vergonha’, disse o comunista, reiterando uma frase partilhada por vários críticos de Marcelo Rebelo de Sousa nesta questão: “Não em nosso nome!”
Com NM