Os jornalistas portugueses iniciaram, esta quinta-feira, uma greve geral – a primeira em mais de 40 anos, em protesto contra a precariedade. A paralisação é notícia lá fora, com a imprensa internacional a falar de uma greve “inédita”.
“Portugal: uma greve de jornalistas inédita em 42 anos”, lê-se numa notícia publicada pelo diário francês Le Fígaro, juntamente com a AFP.
O diário escreve que “os jornalistas portugueses foram chamados” à greve “para denunciar os baixos salários e a precariedade de um sector em grandes dificuldades”.
“Jornalistas entram em greve em Portugal para exigir melhores salários”, noticia a France 24. “Os jornalistas portugueses entraram esta quinta-feira em greve pela primeira vez desde 1982 para exigir um aumento dos seus salários e denunciar a precariedade do sector da imprensa”, escreve, numa peça que também é apoiada por texto da AFP.
O mesmo faz o jornal semanal americano Barron’s. “Jornalistas em Portugal fazem greve pela primeira vez em 42 anos”.
A imprensa internacional destaca ainda a situação vivida no Global Media Group e destaca que serviços com o da agência Lusa estão parados desde ontem.
“Jornalistas portugueses entram em greve geral nesta 5ª feira”, lê-se no jornal digital brasileiro independente Poder360. “Jornalistas portugueses entraram em greve geral nesta 5ª feira (14.mar.2024). A categoria protesta contra os baixos salários e exige o pagamento de horas extra. De acordo com o Sindicato dos Jornalistas de Portugal, pelo menos 36 veículos de imprensa do país aderiram à paralisação e outros 12 suspenderam as actividades parcialmente. O acto deve durar 24 horas, até a meia-noite de 6ª feira”, escreve.
“Jornalistas iniciam greve em Portugal para reivindicar melhores salários”, foi o título escolhido pelo site UOL.
A greve foi também notícia no Jornal de Angola: “Portugal: Jornalistas em greve por 24 horas”. “Os jornalistas de Portugal, paralisaram, esta quinta-feira, as actividades (…). Segundo a imprensa portuguesa, em causa estão ‘os baixos salários, a precariedade e a degradação acentuada das condições de exercício de jornalismo’. Mais de duas dezenas de órgãos de comunicação social estão parados, em consequência da greve”.
Recorde-se que o Sindicato dos Jornalistas (SJ) agendou uma greve geral para esta quinta-feira, a primeira em mais de 40 anos (a última foi em 1982), contra os baixos salários, precariedade e degradação das condições de trabalho do sector.
A paralisação foi marcada na sequência do 5.º Congresso dos Jornalistas, que decorreu em Janeiro deste ano, em Lisboa.
FORTE ADESÃO
“Greve geral de jornalistas. Emissão e site da TSF condicionados esta quinta-feira”, lê-se no site da rádio. O serviço da agência Lusa também não está operacional e muitos outros órgãos de comunicação social enfrentam constrangimentos.
Embora já esperasse uma adesão “muito forte”, Luís Simões, presidente do Sindicato dos Jornalistas (SJ), diz que os números da adesão à greve são “muito expressivos e acima do que perspectivávamos”, refere em declarações ao +M, sublinhando a existência de “redacções sem ninguém”.
“É uma adesão enorme. Se o Açoriano Oriental fez capa com a greve, há rádios que não têm blocos noticiosos, há jornais que amanhã [sexta-feira] não estarão nas bancas. Tem sido incrível. A cada minuto que passa temos tido mais gente a dizer que a redacção não tem ninguém, há escalas de seis pessoas que tem só uma. Sendo muito cedo para fazer um balanço, está a ser fantástico”, afirma.
Se a maioria das reivindicações não forem atendidas “não teremos outra alternativa, vamos ter que parar outra vez, e parar brevemente, porque o sinal que estamos a dar é este. Se continuar assim, nós vamos parar mais vezes. E este é um paradigma que se quebra hoje. Foram 40 anos, mas não estamos dispostos a continuar a fazer de conta que está tudo bem quando está tudo mal”, declara.
Entre as reivindicações, Luís Simões diz que espera que esta sexta-feira “todos os patrões da imprensa tenham a consciência de que vamos pedir um aumento a rondar os 10% para cobrir a inflação acumulada nos últimos dois anos e de que o jornalismo não se faz sem progressão na carreira”.
Já dirigida ao poder político, “temos uma mensagem muito clara, que é evidente. Nós somos o país da Europa que per capita menos dinheiro coloca no apoio ao jornalismo livre e independente, no momento em que o jornalismo é mais necessário para compreendermos o mundo porque a desinformação cresce todos os dias”.
Neste sentido, são reivindicadas ao poder político propostas de apoio ao jornalismo, como a implementação de um voucher para usar em assinaturas de jornais (recaindo assim a escolha sobre quem consome), ou apoios que se aplicam no campo fiscal.
“Temos um governo a ser formado, quando se esclarecer um pouco melhor a situação, lá estaremos para falar com todas as forças políticas”, diz o líder do SJ.
Foto Patrícia de Melo Moreira/AFP