A maioria dos inquiridos (59%) num estudo divulgado esta sexta-feira considera que os responsáveis políticos do antigo regime deveriam ter sido julgados pelos actos de repressão cometidos durante a ditadura, opinião que tem vindo a aumentar ao longo do tempo.
A conclusão é da equipa que realizou uma sondagem hoje divulgada pela Comissão Comemorativa 50 Anos 25 de Abril, na qual se reproduzem questões colocadas em estudos idênticos realizados em 2004 e em 2014.
No caso dos funcionários da PIDE/DGS, a polícia política, o sentimento de que não foi feita justiça também aumentou nos últimos 10 anos. Em 2014, esta opinião foi expressa por 45% dos inquiridos, mas no actual inquérito foi assumida por 64%, um aumento de 19 pontos percentuais.
O trabalho, desenvolvido por uma equipa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, mostra que apenas um em cada cinco inquiridos considera que o regime político que existia antes do 25 de Abril de 1974 teve “mais coisas positivas do que negativas”.
Quanto mais elevado é o nível de instrução, maior a propensão para se considerar que o regime anterior tinha mais de negativo do que de positivo.
Relativamente à questão “como devia passar à história o 25 de Abril?”, mais de metade defende consequências mais positivas do que negativas, mas observa-se “um aumento gradual” da proporção de inquiridos que considera que teve consequências tão positivas como negativas, “ideia partilhada actualmente por cerca de um terço dos inquiridos”, sublinham os autores do trabalho, coordenado por Pedro Magalhães.
O grupo que tem uma visão predominante negativa das consequências do 25 de Abril mantém-se nos 10% desde 2014.
“As mulheres, os idosos, os menos escolarizados e os que reportam dificuldades em viver com o rendimento do agregado familiar são ligeiramente menos propensos a achar que os portugueses se devem orgulhar do modo como ocorreu a transição para a democracia”, lê-se no relatório da sondagem ‘Os Portugueses e o 25 de Abril’.
As figuras públicas mais mencionadas quando se fala em 25 de Abril são António de Oliveira Salazar (16%) e Salgueiro Maia (15%), seguidos por Mário Soares e Otelo Saraiva de Carvalho (9% cada) e de Ramalho Eanes (6%).
António de Spínola e Marcello Caetano recolhem, cada um, 4% das respostas espontâneas, Francisco Sá Carneiro 3% e Álvaro Cunhal e Zeca Afonso 2%.
Quase metade dos inquiridos (48%) não considera que exista um partido político que represente hoje o 25 de Abril mais do que qualquer outro.
O PS e o PCP são os partidos mais mencionados, com taxas de referência de 14%, cada. Os restantes partidos apresentam “níveis residuais” de associação.
A esta questão não respondeu 17% dos inquiridos para a sondagem.