O trabalho de Ana Cláudia Martins, sob o título ‘Rock in Portugal: Repercussões do género musical na juventude portuguesa (1960 vs. 2014)’, foi o mote para uma reflexão acerca das influências sociológicas deste género musical na sociedade portuguesa. Menos rebeldia e mais profissionalismo são traços que a autora – que defendeu a sua dissertação no âmbito do mestrado em Comunicação, Arte e Cultura da Universidade do Minho – inferiu na comparação temporal, sobre o que tem levado os fãs contemporâneos às escolas de música e ao contacto com instrumentos musicais desde tenra idade.
No estudo diz que “à semelhança de outras formas de expressão artística, o rock deixou uma marca no mundo e nas sociedades, por isso, o fenómeno mereceu da investigadora uma análise ao rock nacional, debruçando-se na sua chegada, no seu desenvolvimento e na sua consolidação”.
Por outro lado, foram objeto de análise, as repercussões, transformações e inovações deixadas no país. A pesquisa pretendeu explorar a emersão desta subcultura em Portugal, bem como o lugar que ocupa. Ao longo do documento aborda-se o que mudou na juventude lusa ao nível dos seus gostos, hábitos, valores e relações desde os sixties.
A ex-aluna do Instituto de Ciências Sociais da UMinho realizou 26 entrevistas, primeiro com quem viveu o fenómeno nos anos 60 do século passado e que pertenceram ou ainda pertencem ao movimento. Falou também com outros protagonistas que tiveram alguma ligação ao rock, nomeadamente Tozé Brito (músico e produtor), Adolfo Luxúria Canibal e Miguel Pedro (ambos dos Mão Morta), Vítor Rua (GNR), Hélio Morais (Linda Martini), Nuno Calado e Álvaro Costa (radialistas), António Garcez (Roxigénio), José Castro (Petrus Castrus), Sérgio Castro (Trabalhadores do Comércio), José Serra (Aqui D’El Rock), Eduardo Morais (realizador), João Santos (produtor musical) e Victor Gomes (músico).
Em conclusão, a jovem socióloga declara que há hoje um rock diferente no visual, no profissionalismo, no ideal e na atitude. O estudo realça que “a nível visual já não há correntes, casacos de couro ou cabelos compridos”. Ana Cláudia Martins sublinha que uma das características atuais mais visíveis é o uso de t-shirts relativas às bandas de eleição, bem como outros adereços numa lógica de merchandising.
PROFISSIONALISMO
A nível profissional, – assinala – os músicos contemporâneos parecem olhar o rock como projeto de vida e recorrem às ferramentas da nova era digital. Grava-se a música não de forma amadora ou semiprofissional, mas com uma logística e técnica de topo. Já não interessa “o sexo, as drogas e o rock’n’roll” em si, o foco “está em trabalhar mais e evoluir profissionalmente”, atalha.
No que diz respeito à questão da atitude, os artistas recorrem a todos os meios para ter sucesso, não estando tão dependentes de editoras. A oferta é maior, mas também o é a procura, pois “os fãs são o verdadeiro exemplo, procuram cada vez mais bandas que agradem e cumpram os seus padrões”. Apesar de tudo, o rock continua a ser, realça a socióloga, um fenómeno da juventude, “embora ligado a várias gerações que por ele passaram e que, de certa maneira, deixaram a sua marca”.
Luís Moreira (CP 8078)