O grupo parlamentar do Bloco de Esquerda (BE) deu entrada a um conjunto de perguntas ao Ministério da Cultura sobre a conversão em hotel de 4 estrelas do Paço de Curutelo, ou Castelo de Curutelo como também é conhecido, em Ponte de Lima. Em causa, a “realidade chocante” de uma obra que destrói o imóvel e descaracteriza sua envolvência.
Recordando que o Paço, ou Castelo de Curutelo, é considerado um Imóvel de Interesse público (IPP) desde 1977, o BE diz que a conversão do imóvel numa unidade hoteleira de 4 estrelas pelo Grupo Vila Galé está a destruir e a descaracterizar o edificado e a sua envolvência.
“Além de nova construção de grandes dimensões e completamente dissonante com a envolvência e com o monumento, a malha anciliar do paço foi sujeita a grandes alterações, bem como a paisagem em redor foi transformada drasticamente”, denuncia o Bloco, referindo que esta situação “tem criado muita indignação na população do Alto Minho”.
Os bloquistas socorrem-se do parecer da Associação para a Defesa, Estudo e Divulgação do Património Cultural e Natural (ASPA), que considera a obra em curso “uma realidade chocante e que está em curso uma descaracterização profunda do Paço do Curutelo”, um paço em forma acastelada, com uma torre ou casa-forte com origens românicas, situado na freguesia de Ardegão, Freixo e Mato, adquiro em 2022 pelo Grupo Vila Galé, através da empresa Xvinus – Companhia Enoturística, Lda.
No documento a Dalila Rodrigues, ministra da Cultura, o BE aponta um texto público assinado por historiadores, arquitectos e antropólogos. Nesse texto, os especialistas demonstram o seu desagrado sobre a obra e consideram que “o espírito da intervenção que agora se perfila é dum completo desrespeito por qualquer noção integral do património representado pelo Paço de Curutelo, entendido na sua dignidade, na sua autonomia e na organicidade da sua implantação no território”.
A intervenção do grupo hoteleiro é mesmo entendida como “uma grave violação do compromisso expresso pelo Grupo Vila Galé para com a devida valorização do monumento”.
O Bloco entende, assim, que os interesses imobiliários “não podem sobrepor-se ao interesse público maior representado pelos valores patrimoniais do local”. “Nesse sentido, urge esclarecer o que motivou os pareceres favoráveis de construção que ameaça o imóvel classificado, tal como eventuais danos irreversíveis.”
Na pergunta endereçada ao Ministério da Cultura, Joana Mortágua, líder do partido, quer ainda saber se esta obra tem tido acompanhamento arqueológico, atendendo à ocupação medieval do local e o que motivou o parecer favorável da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) à construção do hotel.
Fernando Gualieri (CP7889)