Cerca de 20 dos 197 estudantes inquiridos pela investigadora da Universidade do Minho, Luzia de Oliveira Pinheiro diz ter já sido vítima de cyberbullying. Outros 11 por cento pensa que talvez já tenha sido vítima.
O estudo, incluído na tese de doutoramento da autora sobre o tema, abrangeu 150 indivíduos, através de 193 inquéritos, feitos, em 2103, nas universidades do Minho e da Beira Interior. Que permitiram recolher sete casos de cyberbullying.
Considera-se cyberbullying todos os casos de divulgação pública de conteúdos textuais, visuais e áudio que depreciem ou desacreditem alguém (ou um grupo), assim como a intimidação, ameaça e perseguição através de mensagens privadas que ocorra de forma sistemática, recorrente e intencional”, disse Luzia Pinheiro.
Dentre os inquiridos há quem tenha alvo de cyberbulling através de chantagem monetária: uma mulher jantou com um homem que conheceu nas redes sociais. Não gostou dele e não prosseguiu com a amizade. Ele perseguiu-a na rede e por e-mail, vindo a descobrir onde ela morava. Acabou por ter de pagar o jantar, a exigência que lhe vinha fazendo como represália.
Há, ainda, perseguição por razões de inveja devido à situação económica: “os meus colegas de turma usaram as redes sociais para me inferiorizar, ameaçar e torturar psicologicamente”, diz um estudante.
Outro diz ter sido insultado e perseguido em jogos on-line em tempo real, enquanto uma universitária disse ter sido insultada no Facebook pelos colegas de turma que chegaram a criar uma página para isso.
Outros ainda foram alvo da criação de blogue para gozar, de usurpação de identidade, com criação de um perfil falso numa rede social, ou alvo de furto de foto pessoal que foi colocada em site de «encontros».
“PORNREVENGE”
No domínio da vida pessoal e sexual, a investigadora dá conta de uma pessoa que se filmou e enviou o ‘clip’ para o namorado e este após o termo da relação, colocou o vídeo na internet (“pornrevenge”). Outra foi filmada pelo parceiro sem ter conhecimento disso e este usou a película na net para se exibir. Um casal de namorados foi filmado por terceiros em atos íntimos e alvo de publicação na internet.
Os estudantes disseram-se, ainda, vítimas de roubo de passwords de mails e do facebook e de fotos roubadas e postas em redes sociais de mulheres Luzia Pinheiro lembra, a propósito o caso da jovem canadiana de 15 anos Amanda Todd, que se despiu numa webcam ligada a um blog, onde foi vista por centenas de pessoas. Tempos depois foi alvo de chantagem de um homem e acabou por se suicidar. Refere, por isso, que este tipo de violência piscológica pode acabar em sofrimento, com automutilação, tentativa de suicídio ou isolamento das vítimas.
“Quem é vítima sente vergonha tanto de ser vítima de cyberbullying quanto pelo conteúdo exposto”, sublinhou ao JN.
Sobre os motivos que levam os agressores a praticar cyberbullying, aponta os de distúrbios psicológicos, demasiado tempo livre, má formação cívica, ter prazer com o sofrimento dos outros, despejar a agressividade, por brincadeira, para experimentar e ver como é”.
As vítimas – anota – “são pessoas desprevenidas, inconscientes, que tendem a desvalorizar o perigo dos conteúdos online, ou que se expõem demasiado (algumas propositadamente para se sentirem famosas).
“A Internet patrocina a desinibição, a criatividade, a exteriorização. Cria uma ilusão de proximidade e privacidade que não é real. Leva à publicação por impulso, pouco ou nada ponderada, excessiva. A Internet metamorfoseia-se num reality show planetário em tempo real. E presta-se ao cyberbullying que tem um impacto significativo na vida das pessoas.
A autora avisa que a reputação é importante, e salienta que, na Internet qualquer boato, qualquer conteúdo se espalha em segundos. As imagens, os vídeos… de um momento para o outro todos os podem ver. A reputação é incrivelmente abalada, perdida. Recuperar disso é complicado.
REPUTAÇÃO
Na Internet – assinala ainda – “é mais rápido e fácil destruir a reputação de alguém que no face-a-face. Os efeitos são graves: além de perder a reputação pode a vítima ser estigmatizada pela sociedade, autoestigmatizar-se, entrar em depressão e suicidar-se. Este é o motivo do suicídio de Laura Barns”.
E sublinha: “A culpa do cyberbullying não é da Internet. É das pessoas. Cabe às pessoas pensar na hora de partilhar online, de se informarem. As pessoas partilham conteúdos privados publicamente e nem se apercebem dos riscos que correm. Isso é uma arma para um agressor (cyberbullie) e em breve será um pesadelo para a vítima… É um tabu social”.