O jornalista bracarense José Moreira, já falecido, foi esta segunda-feira homenageado pela Câmara, com o descerramento de uma placa com o seu nome no último troço da avenida que dá acesso ao Hospital de Braga.
O presidente da Câmara, Ricardo Rio disse, na ocasião, que se trata de um “acto de justiça” para com uma personalidade que “defendeu apaixonadamente o património de Braga”.
Coube ao vereador Miguel Bandeira, que foi amigo de José Moreira, falar da sua personalidade, lembrando que foi jornalista e chefe de redacção do Correio do Minho – e correspondente na cidade de outros órgãos de comunicação social – e mais tarde, livreiro e editor na extinta Livraria Pax.
Evocou, ainda, o seu passado como membro de um movimento católico, os Focolares, e como associado da ASPA- (Associação de Defesa do Património) cuja revista, a MINIA, impulsionou e dirigiu.
No acto participaram, ainda, o arcebispo de Braga, Jorge Ortiga, o vice-presidente Firmino Marques (também amigo e impulsionador da homenagem), o professor Manuel Carlos Silva (deputado municipal do BE), o director do Hospital, membros da ASPA e da Junta de Freguesia de São Vítor, e vários familiares e amigos.
José Moreira foi apoiante do Estado Novo, mas isso não o impediu de ser uma voz crítica da ‘situação’ como sucedeu enquanto responsável editorial do Correio do Minho, onde, nos anos 60 do século passado, não se coibiu de criticar a política seguida pelo então presidente da Câmara e Governador Civil, Santos da Cunha. Tal valeu, por iniciativa de Santos da Cunha, o corte de subsídios ao jornal – que era propriedade da União Nacional – na mira de calar a sua voz independente, fechando-o.
Outra das suas facetas foi a de cinéfilo inveterado, que se traduziu na organização de ciclos de cinema no Teatro Circo e na publicação frequente de críticas a diversas películas. Foi, ainda, poeta e memorialista, neste caso, sobre gente ilustre da cidade. Foi, também, director da Casa da Mocidade em Braga.
Lutador pelo património
No 25 de Abril de 1974, José Moreira aderiu ao regime democrático, embora tivesse tido que ajudar amigos a fugir para Espanha, perseguidos que foram pela nova situação, onde predominava o PCP e os militares revolucionários.
Apesar disso, aderiu, sem hipocrisias, à democracia – embora mantendo-se crítico e vaticinando um futuro de bancarrota despesista – e, depois de a Livraria Pax, onde era sócio-gerente ter sido vendida contra sua vontade – dedicou as suas energias à luta pela defesa do património da cidade, no quadro da acção da ASPA, batendo-se, em especial, pela preservação do monumento das Sete Fontes e zona contígua, uma luta que deu frutos, conforme frisou Miguel Bandeira.
José Moreira nasceu a 14 de Dezembro de 1922 na freguesia da Sé, mais propriamente na Avenida de São Miguel-o-Anjo. Jornalista durante vários anos, deixa para a posteridade uma acção interventiva na história recente de Braga. Faleceu, em 2002.
A opção pela avenida de acesso ao hospital tem por fundamento o facto de o homenageado ter tido residência na freguesia de S. Victor e ser um dos rostos da luta pela preservação do complexo eco monumental das Sete Fontes, que se localiza à margem desta artéria. Recorde-se que José Moreira é pai do jornalista Luís Moreira, nosso colaborador.