A exortação apostólica do Papa Francisco com as conclusões do Sínodo da Família, divulgada esta sexta-feira, propõe uma valorização da “dimensão erótica” do amor conjugal na reflexão da Igreja. Francisco adverte para um discurso com atenção “quase exclusiva” na procriação.
“Não podemos, de maneira alguma, entender a dimensão erótica do amor como um mal permitido ou como um peso tolerável para o bem da família, mas como dom de Deus que embeleza o encontro dos esposos”, refere, no documento que tem como título ‘Amoris laetitia’ [A Alegria do Amor].
Francisco assinala que a “união sexual”, no matrimónio, é vista pela como “caminho de crescimento na vida da graça para os esposos”.
Nesse sentido, questiona a apresentação que é feita pelos responsáveis católicos, com “uma ênfase quase exclusiva no dever da procriação” que acaba por ofuscar “o convite a crescer no amor e o ideal de ajuda mútua”.
A exortação pós-sinodal deixa uma rejeição de qualquer forma de submissão sexual e questiona um “ideal de matrimónio” apenas como “doação generosa e sacrificada, onde cada um renuncia a qualquer necessidade pessoal e se preocupa apenas por fazer o bem ao outro, sem satisfação alguma”.
O Papa rejeita ainda “correntes espirituais que “insistem em eliminar o desejo para se libertar da dor”.
“A sexualidade não é um recurso para compensar ou entreter, mas trata-se de uma linguagem interpessoal onde o outro é tomado a sério, com o seu valor sagrado e inviolável”, escreve.
Francisco convida os casais a “cuidar a alegria do amor”, o que permite “encontrar prazer em realidades variadas” e nas várias fases da vida, dando “real importância ao outro”.
“A ternura é uma manifestação deste amor que se liberta do desejo da posse egoísta”, pode ler-se.
O texto apresenta uma reflexão acerca da “transformação do amor”, sublinhando que o aumento da esperança média de vida leva a que “a relação íntima e a mútua pertença” sejam mantidas “durante quatro, cinco ou seis décadas”, o que “gera a necessidade de renovar repetidas vezes a recíproca escolha”.
“A aparência física transforma-se e a atração amorosa não desaparece, mas muda: com o tempo, o desejo sexual pode transformar-se em desejo de intimidade e ‘cumplicidade’”, assinala Francisco.
O Papa admite que não é possível prometer “os mesmos sentimentos durante a vida inteira”, mas defende ser viável ter “um projeto comum estável”.
“Na própria natureza do amor conjugal, existe a abertura ao definitivo”, realça.
O documento adverte para as consequências do afastamento dos membros do casal: “Pouco a pouco, aquela que era ‘a pessoa que amo’ passa a ser ‘aquele que me acompanha sempre na vida’, a seguir apenas ‘o pai ou a mãe dos meus filhos’, e por fim um estranho”.
Os temas da família estiveram no centro de duas assembleias do Sínodo dos Bispos, em outubro de 2014 e 2015, por decisão do Papa Francisco, antecedidas por inquéritos enviados às dioceses católicas de todo o mundo.
FG (CP 1200) com Ecclesia