Um estudo em 45 países com crianças de 11, 13 e 15 anos revelou que os adolescentes portugueses continuam sedentários e felizes com as famílias que têm. Estão entre os que melhor se alimentam e que fumam menos canábis mas o consumo de álcool está a crescer.
Uma investigação internacional que analisa os comportamentos e a saúde dos adolescentes nos seus vários espaços de experiência, com amostras representativas de alunos de 11, 13 e 15 anos, faz o retrato possível dos jovens europeus.
A última edição do Health Behaviour in School-aged Children (HBSC/OMS) ouviu um total de 227.441 adolescentes, dos quais 5.839 jovens portugueses, a maioria (52,5%) do género feminino, e concluiu que continuam a ser mais sedentários do que os europeus, gostam menos da escola e sentem-se excessivamente pressionados pelos trabalhos escolares.
Há más notícias que se repetem ao longo das várias edições do estudo, como a “fraca a prática da actividade física, fraca em si (poucos adolescentes cumprem o recomendado), e fraca em comparação à média europeia”.
O comunicado é muito claro: “Os resultados são maus desde 1998, a pedir acção urgente na escola, na comunidade e na família”. Também é “fraco o gosto pela escola, fraco em si e fraco na comparação com os restantes países”: só 9,5% dos alunos responderam que gostam muito da instituição. Em 45 países avaliados, isso corresponde em 38.º lugar.
Para além disso, “é elevada a pressão com os trabalhos da escola, sobretudo nos mais velhos e nas raparigas, que também põe Portugal nos piores lugares, desde 1998”.
NEM TUDO É MAU
Como nem tudo é negativo, há também boas notícias, como o comportamento alimentar que continua em geral a ser melhor que a média europeia, tendo melhorado, inclusive, a nível nacional. Os investigadores
A investigação revela ainda que o consumo de canábis diminuiu, sendo actualmente menor que a média europeia.
O estudo demonstra que 80,3% dos alunos sente-se “sempre ou quase sempre seguros na escola”. Os acidentes e lesões são menos frequentes que a média europeia nas raparigas mais novas, situação que se inverte nos rapazes: são mais frequentes que a média europeia nos rapazes mais novos. Quer os rapazes quer as raparigas mais velhos têm mais acidentes em Portugal do que a média da UE.
Os coordenadores do estudo sublinham que “isto sugere um padrão de desenvolvimento diferente nos acidentes e lesões em rapazes e raparigas em Portugal em comparação com os outros países, a merecer atenção”.
Afirmam ainda que as lesões e os acidentes têm vindo a aumentar sobretudo nas raparigas no escalão etário intermédio (13 anos) e nos rapazes mais novos.
CIBERBULLING E ÁLCOOL
O ciberbullying é inferior em Portugal à média europeia, com tendência a subir dos 11 para os 13 anos e descer dos 13 para os 15 anos. As lutas diminuíram nos mais velhos e nas raparigas, sendo menos frequentes face à média europeia, mas aumentaram nos mais novos, sendo nesta idade mais frequentes do que na média europeia.
Regista-se um elevado uso de comunicação online, sobretudo nas raparigas mais velhas, e o consumo de álcool apresenta uma tendência de subida, mas a embriaguez está a descer.
Os adolescentes portugueses referem sentir um apoio social por parte dos colegas da escola superior à média europeia, principalmente os rapazes, e um apoio social menor por parte dos professores, sobretudo as raparigas.
Com os rapazes a parecerem duplamente beneficiados e em comparação com a Europa: sentem maior apoio social dos colegas e dos professores. Também dizem sentir um maior suporte da família e dos amigos, ultrapassando a média europeia.
Piorou a percepção de boa saúde nos adolescentes de 11 anos em Portugal, comportamento distinto da média dos outros países. Mas a satisfação com a vida subiu desde 2014 e mantém-se de acordo com a média europeia.
Apresentar dois ou mais sintomas físicos ou psicológicos é mais frequente em 2018 do que era em 2014, mas permanece inferior à média europeia.
Em 2018 de um modo geral, são mais frequentes as dificuldades em adormecer, tristeza, nervosismo, irritação e dores de costas, mas mesmo assim inferiores à média europeia.
O ESTUDO
Realizado em colaboração com a Organização Mundial da Saúde, o estudo conta com a participação de 45 países e tem vagas de investigação a cada quatro anos, que se iniciaram em 1983, com Portugal a participar desde 1998.
Coordenado pela psicóloga Margarida Gaspar de Matos, o projecto incluiu em Portugal alunos do 6.º, 8.º, 10.º e 12.º anos e, “analisando o nível médio de riqueza das famílias portuguesas” dos quase seis mil inquiridos, o país encontra-se na 22.ª posição entre os 45 participantes.
Ou seja, a maioria dos pais estão empregados (94,6%), embora existam 1,5% dos pais e 3,5% das mães que não têm um emprego, e 0,4% de jovens têm ambos os pais desempregados. O nível de desemprego das mães (3,5%) é superior à média dos países incluídos (2,9%), mas a frequência de pais e mães empregados (94,6%) é, mesmo assim, inferior à média europeia (95,3%).
A maioria dos jovens disse ter origem portuguesa (74,8%) e 19,5% referiram que “pelo menos um dos pais” nasceu fora de Portugal.
Relativamente à estrutura familiar, 69,8% viviam com os pais na mesma casa e, dos que não residiam com ambos os pais, 17,8% faziam parte numa família monoparental e 12,4% disseram ter outro tipo de estruturas familiares.
Redacção com Expresso