O agricultor Luís Dias, que está em greve de fome junto à residência oficial do primeiro-ministro, já teve alta hospitalar e voltou ao protesto, com a promessa de não desistir.
“Bem sei que se preocupam, mas não desisto, não posso”, escreveu na rede social Twitter, onde partilhou o link para uma petição que reclama uma solução mediada para o diferendo que opõe o agricultor ao Governo.
Luís Dias foi hospitalizado esta quarta-feira depois de já ter estado internando na semana passada, no hospital de São José, em Lisboa, tendo depois regresso ao local do protesto, na sexta-feira, num jardim junto à residência oficial de António Costa, onde se encontra numa tenda há 29 dias.
Também na rede social Twitter, o ex-presidente da Associação Transparência e Integridade reforçou que tudo o que Luís Dias pede é que “o Governo inicie a mediação que reiteradamente prometeu, com base nos factos do caso, documentados e que ninguém disputa”.
Na quinta-feira passada, o deputado único do Livre, Rui Tavares, questionou no Parlamento o primeiro-ministro, António Costa, sobre o tema, tendo obtido como resposta que Costa tem mantido contacto com Luís Dias “várias vezes ao longo dos anos em que tem estado em manifestações”, no entanto, afirmou que o Governo “não tem nada a fazer para responder a essa situação”.
Perante o protesto de algumas bancadas, o primeiro-ministro respondeu: “O senhor não tem razão, não há nada a fazer, é muito simples”, disse.
Quando esteve em greve de fome em frente ao Palácio de Belém, um protesto que durou cerca de 30 dias e terminou a 6 de Junho de 2021, após receber a visita de apoiantes e de falar com o Presidente da República, o agricultor, de 49 anos, disse que se encontrava em greve “contra a indiferença destrutiva do Estado”, que alega ter prejudicado o seu projecto agrícola.
A história de Luís Dias, segundo relatou o jornal Público na altura, remonta a 2015, quando apresentou, junto da Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Centro (DRAPC), uma candidatura para ajudas financeiras para avançar com uma exploração de amoras na Quinta da Zebreira, em Castelo Branco.
A candidatura viria a ser recusada por, segundo o DRAPC, não existirem garantias bancárias.
O agricultor viria a recorrer ao Tribunal de Contas Europeu, que lhe deu razão, afirmando que as garantias bancárias não lhe podiam ser exigidas.
Em 2017, após o mau tempo ter destruído a sua exploração, voltou a pedir ajuda à DRAPC e verbas para compensar os prejuízos pela intempérie, mas o apoio voltou a ser recusado.
Dois anos depois, Luís Dias recorreu à provedora de Justiça e, nessa altura, o Ministério da Agricultura considerou, num despacho, que a Quinta da Zebreira poderia ter acesso a verbas do Estado, mas nunca efectuou qualquer pagamento.
Em Janeiro deste ano, Luís Dias anunciou que iria voltar a fazer greve de fome, acusando o Governo de “extrema má-fé”, após ter sido recebido pelo Ministério da Agricultura.
“O boicote e a prepotência reiterada do Estado tiraram-me tudo. A única coisa que me resta, para além da razão que o Estado reconhece, mas não repara, é a minha dignidade. Não vou ceder. […] Se quiser discutir isto comigo e por fim repor a justiça que está inteiramente nas suas mãos, estarei acampado em greve de fome à porta da sua residência, a partir da próxima sexta-feira”, afirmava numa carta aberta, enviada na altura ao primeiro-ministro, à qual a Lusa teve acesso.