A ingestão de gorduras saturadas da manteiga, carne de porco e carnes vermelhas aumenta o risco de morte prematura, confirmou um estudo publicado esta terça-feira no Journal of the American Medical Association (JAMA) Internal Medicine.
A investigação, que envolveu mais de 120 mil pessoas pessoas e durou três décadas, revelou também que substituir esses alimentos por gorduras como a do azeite de oliva pode trazer benefícios substanciais, podendo mesmo reduzir a mortalidade.
“Houve confusão generalizada na comunidade biomédica e no público em geral nos últimos anos sobre os efeitos na saúde de tipos específicos de gorduras”, comenta o autor principal do estudo, Dong Wang, doutorando em Saúde Pública na Universidade de Harvard, citado pela agência de notícias France Presse.
“Este estudo documenta benefícios importantes das gorduras insaturadas, especialmente quando elas substituem gorduras saturadas e trans”, (normalmente encontrada nas margarinas, biscoitos, batatas fritas, sorvete e salgadinhos de pacote), explica o cientista.
De acordo com o estudo, as pessoas que comeram mais gorduras saturadas e trans tiveram taxas de mortalidade mais elevadas do que aquelas que consumiram o mesmo número de calorias em hidratos de carbono.
A investigação apontou, ainda, que a substituição de gorduras saturadas como as das manteiga, banha e carne vermelha por gorduras insaturadas de alimentos vegetais – como azeite de oliva, óleo de canola e óleo de soja – pode oferecer “benefícios substanciais para a saúde”.
As conclusões foram baseadas em questionários respondidos por profissionais de Saúde a cada dois ou quatro anos – durante 32 anos – sobre a sua dieta, estilo de vida e saúde.
As gorduras trans (não presentes na natureza, produzidas a partir de gorduras vegetais), incluindo as parcialmente hidrogenadas como a da margarina, tiveram os impactos mais graves na saúde.
O estudo constatou que por cada aumento de 2% na ingestão de gorduras trans existe uma hipótese de mortalidade precoce 16% maior. Por outro lado, por cada aumento de 5% no consumo de gorduras saturadas, existe um mais 8% de risco de morte prematura.
Já a ingestão de grandes quantidades de gorduras insaturadas – presentes no azeite, abacate e nozes, por exemplo – “esteve associada a uma mortalidade entre 11% e 19% menor em comparação com o consumo do mesmo número de calorias provenientes de hidratos de carbono”, conclui o estudo.
Menor risco de doença
“As pessoas que substituíram as gorduras saturadas por gorduras insaturadas – especialmente por gorduras poli-insaturadas – tiveram um risco de morte significativamente menor durante o período do estudo, assim como um menor risco de morte por doenças cardiovasculares, cancro, doenças neurodegenerativas e doenças respiratórias, em comparação com aquelas que mantiveram o consumo elevado de gorduras saturadas”, acrescenta a investigação.
Alguns especialistas criticam o facto do estudo ser observacional e basear-se em questionários, que podem gerar respostas intencionais. No entanto, o resultado geral está em consonância com outros grandes estudos sobre alimentação e saúde.
Para Ian Johnson, investigador emérito do Instituto de Investigação Alimentar do Reino Unido, os “resultados são consistentes com as recomendações de saúde pública atuais no Reino Unido e em outros lugares e, em particular, com o conceito de que a dieta mediterrânea – rica em gorduras insaturadas de vegetais, peixes e azeite de oliva – é benéfica”.
“Não há nada nesses resultados que seja consistente com a ideia de que a manteiga é saudável e está de volta”, acrescentou Johnson, que não participou no estudo.