André Ventura respondeu esta sexta-feira com ataques aos jornalistas em Viana do Castelo, depois de ter sido divulgada uma interacção, durante a campanha, na Póvoa de Varzim, entre o líder do Chega e um migrante, que o acusa de ser racista.
Após a emissão de uma de uma reportagem da SIC em que o momento é abordado, o Chega partilhou nas redes sociais um vídeo manipulado da situação.
Confrontado pelos jornalistas com a manipulação das imagens pelo partido, Ventura negou e acusou os jornalistas de serem “o inimigo do povo”, uma expressão usada em 2017 por Donald Trump.
“Vocês foram os verdadeiros disseminadores de notícias falsas. E foram, sobretudo, o inimigo do povo – que é aquele que tenta manipular o povo em prol de uma ideia política”, lançou aos jornalistas
Questionado sobre o recurso à expressão do ex-presidente dos Estados Unidos, Ventura voltou a subir o tom e atirou: “Eu não estou a imitar ninguém, estou a dizer aquilo que acho. Vamos lá ver se a gente se entende, o que eu estou a dizer é que, ontem [quinta-feira], foram vocês que manipularam o povo e isso é mau em democracia, não é assim que deve ser.”
“O que não correspondeu à verdade foi a peça que foi passada”, declarou, referindo a reportagem emitida pela SIC.
Depois, André Ventura insistiu que o migrante que o acusou de racismo foi “plantado” por adversários políticos.
Na rede X, esta sexta-feira, André Ventura escreve: “ontem [quinta-feira], a campanha do CHEGA foi interrompida por um imigrante que estava instrumentalizado para mentir sobre o CHEGA. Isto é uma vergonha, e o povo tem que saber a verdade!”.
Questionado sobre a quem dirige directamente a acusação, o presidente do Chega respondeu: “Todos os que estão contra nós”.
A VERDADE
Ikbal tem 33 anos, vive em Portugal há três e chorou a contar a sua história a André Ventura, que acusou de se aproveitar politicamente dos imigrantes sem apresentar soluções, e que era vítima de racismo em Portugal e por parte do próprio André Ventura.
Num português esforçado e em que faltam as palavras, o imigrante do Bangladesh assegurou ainda ter todos os papéis “direitinhos” e criticou o Chega por apenas “reclamar” e não apresentar propostas que resolvam os problemas.
Enquanto contava aos jornalistas o que tem sentido na pele, gritaram-lhe “Viva Portugal” e “volta para o teu país”.
A história acabou noticiada em vários órgãos de comunicação social e o Chega colocou a circular nas redes sociais uma alegada contradição na história, dizendo que o homem em poucos minutos afirma que trabalha numa estufa a cortar cravos e também que é pescador, que é do Bangladesh e logo a seguir da Indonésia.
O que se passou – como mostra a reportagem da SIC Notícias – é que Ikbal disse que trabalhar numa estufa a cortar cravos, mas dedicar-se essencialmente a dar o exemplo dos pescadores, recorrendo aos números de indonésios que saem em barcos para pescar e à falta de condições em que vivem.
Na verdade, no áudio original captado não se ouve o homem a dizer a palavra “sou” antes de “pescador imigrante”, ao contrário do que surge nas legendas do vídeo.
Conclusão: a gravação está (mal) manipulada.
Com Observador e SIC Notícias