Os dois arguidos, pai e filho, de Terras de Bouro, que estão a ser julgados no Tribunal de Braga por terem, em 2013 agredido à paulada e à facada, um vizinho deixando-o às portas da morte e pendurado num silvado, confessaram o crime ao Tribunal, mas garantiram não terem querido matar a vítima.
A posição dos arguidos levou a defesa a pedir, nas alegações finais, que sejam condenados por “ofensas à integridade física” e não por homicídio na forma tentada.
Uma querela de águas de regadio, em Terras de Bouro, levou, em 2013, os dois homens, a agredirem o vizinho deixando-o às portas da morte e pendurado num silvado. Salvou-se porque o filho apareceu e o encontrou entre as silvas, inanimado e cheio de sangue.
O crime ocorreu a 6 de Julho de 2013, nos baldios dos Tajais, em Chamoim, naquele concelho geresiano, quando a vítima António José Dias, de 64 anos – entretanto falecido em 2014 de causas naturais – pastava gado.
Os agressores, José Martins Lopes, de 65 anos e o filho Martinho João Lopes, de 31, que estão acusados de homicídio qualificado na forma tentada, tinham sido interpelados em Junho por António Dias num ajuntamento de vacinação de gado, isto perante vários outros agricultores da aldeia, acusando-os de andarem a desviar o curso de água do regadio em seu benefício. Para agravar a tensão, a mulher de José Lopes, Fátima, andara a dizer que a vítima a tentara violar.
No dia do crime – refere o Ministério Público – os dois arguidos viram-no numa pastagem, situada num local ermo sem casas ao redor – e, munidos de facas e de dois paus, com comprimento de dois metros e um punho de largura, resolveram atacá-lo “com a intenção de lhe tirarem a vida”.
O pastor estava sentado à sombra, pelo que os dois atacaram-no pelas costas, atingindo-o na cabeça, tórax, abdómen, e membros superiores e inferiores.
Caiu, então, inanimado e a deitar sangue, mas, nem, por isso, os atacantes dele tiveram piedade: arrastaram-no pelos pés e levaram-no até a uma ribanceira junto a um ribeiro para onde o atiraram, vindo a queda a ser amortecida pelo silvado onde ficou preso. “Anda filho da p… que já não comes mais pão”, terá dito o pai.
Horas mais tarde, um filho do pastor dirigiu-se ao local para tratar de uma venda de madeiras. Não vendo o pai, procurou-o e chamou os bombeiros. Ficou com três fracturas, cortes profundos e vários hematomas – e com sequelas diversas – que o obrigaram a três cirurgias, e a estar 391 dias sem poder trabalhar. A viúva pede 74 mil euros de indemnização.
Luís Moreira (CP 8078)