O cancelamento das principais romarias do Alto Minho vai representar uma perda de receitas na economia local na ordem dos 30 milhões de euros, segundo estimativas avançadas esta quinta-feira à Lusa pelos presidentes de câmara de cinco concelhos.
Os autarcas de Viana do Castelo, Ponte de Lima, Ponte da Barca, Arcos de Valdevez e Caminha, contactados pela Lusa, referiram não existirem estudos sobre o retorno financeiro das festividades, mas apontaram um cálculo de perdas tendo por base um valor médio gasto por visitante.
Realçaram que os montantes estimados podem pecar por defeito, uma vez que há toda uma economia em torno das romarias que para muitos negócios é importante para garantir a sua continuidade.
Nos 10 municípios do distrito de Viana do Castelo, entre Maio e Dezembro realizam-se mais de mil festas, feiras e romarias, sendo que só na capital, Viana do Castelo, e em Ponte de Lima o cancelamento da Romaria d’ Agonia e das Feiras Novas, respectivamente, as perdas podem ascender os 20 milhões de euros.
Em declarações à Lusa, o presidente da Câmara de Viana do Castelo, José Maria Costa, estimou que o cancelamento, no formato habitual, da edição 2020 das Festas d’Agonia representa uma “perda directa” de receita de 10 milhões de euros, sobretudo nos sectores do comércio, restauração e hotelaria.
Esta que é a principal festa no concelho, entre as cerca de 70 que anualmente se festejam em Viana, e está marcada para decorrer entre 19 e 23 de Agosto. Pela primeira vez em 248 anos, não conta com os números emblemáticos nas ruas, devido às restrições impostas pela pandemia de covid-19.
Antes do aparecimento do novo coronavírus, e segundo o autarca socialista José Maria Costa, “passavam pela cidade, durante os cinco dias das festas, cerca de 1,5 milhões de pessoas que ficavam alojadas, faziam refeições, compravam ouro e outros produtos tradicionais nas lojas de comércio local e que movimentavam toda a economia”.
“Estamos a falar de uma quebra de receita de cerca de 10 milhões de euros. Se juntarmos o cancelamento de outros eventos que habitualmente decorrem em Agosto, como por exemplo o festival de música electrónica Neopop, no total, os prejuízos podem chegar aos 12 milhões de euros”, especificou.
Em Ponte de Lima, as Feiras Novas, criadas pelo rei D. Pedro IV, por provisão de 5 de Maio de 1826, são consideradas a última grande romaria do ciclo festivo do Alto Minho. Os cinco dias de festa, no início de Setembro, são marcados pelas rusgas de tocadores de concertina e cantadores ao desafio, atraindo “entre 600 a 700 mil pessoas”.
A pandemia cancelou a edição 2020, o que implicará, segundo as estimativas do autarca Vítor Mendes, “uma perda de receitas na ordem dos quatro milhões de euros”.
“A hotelaria costumava ter taxas de ocupação de 100% nesse período, mas os prejuízos estendem-se à restauração, comércio e a todos os negócios que vivem, directa ou indirectamente, das festas. E não são só as Feiras Novas a serem afectadas. Foram canceladas a Vaca das Cordas, feiras do cavalo e do vinho verde. No total, o impacto negativo será, seguramente entre sete a oito milhões de euros”, disse.
Victor Mendes referiu que “não há plano B para substituir uma tradição com a dimensão e o envolvimento de milhares de pessoas”. No entanto, adiantou que a associação que organiza os festejos está a trabalhar numa solução digital, ainda a apresentar, para que “a romaria não passe completamente despercebida”.
A Romaria de São Bartolomeu, em Ponte da Barca, decorre durante seis dias, em Agosto. Na edição 2019, “passaram pela vila mais de 300 mil pessoas”, atraídas pelas rodas de Vira, dança em que os bailarinos se dispõem aos pares, em roda, de braços erguidos e vão girando vagarosamente no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio. As rusgas populares são outros dos pontos altos do programa.
Segundo o presidente da Câmara, Augusto Marinho, este ano “a perda de receitas rondará os 4,5 milhões de euros”.
No município situado do outro lado do rio Lima, em Arcos de Valdevez, antes da covid-19 as festas em honra de Nossa Senhora da Lapa, que duram uma semana, recebiam cerca de 100 mil visitantes.
Este ano, os festejos não se fazem nos moldes habituais e as contas do autarca social-democrata João Manuel Esteves apontam para perdas de “dois a três milhões de euros”.
“Se somarmos os prejuízos de outras festividades importantes no concelho, como do São Bento, Senhora da Peneda e da Senhora da Porta, deixam de ser injectados na economia local, no total, entre cinco e seis milhões de euros”, especificou.
As festas vão, este ano, ser “celebradas em formato digital para cumprir as contingências impostas pela pandemia de covid-19”.
Em Caminha, as festividades são em honra de Nossa Senhora da Bonança e estão muito ligadas à classe piscatória de Vila Praia de Âncora. Incluindo a novena, a romaria dura cerca de duas semanas.
O presidente da Câmara, Miguel Alves, explicou que “os prejuízos rondarão os 300 a 400 mil euros, entre o que os visitantes iriam gastar com o alojamento, restaurantes, cafés, comércio e diversões”.
O ponto alto da festa é a procissão ao mar, com a participação de dezenas de embarcações engalanadas, que se dirigem-se ao Forte da Ínsua, numa pequena ilha rochosa, na foz do rio Minho, perto da costa, para aí recolher a imagem da Senhora, que vai fazer parte da procissão principal da romaria.