Fármacos mais eficazes, tratamentos menos tóxicos e técnicas de diagnóstico precoce e não invasivo foram algumas das vantagens apontadas pelos especialistas que se juntaram no INL – Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia, em Braga, numa conferência dedicada à nanotecnologia aplicada à medicina, em concreto, ao diagnóstico e terapia do cancro.
O papel da Nanotecnologia nos avanços sobre o conhecimento da doença foi também destacado, num debate com especialistas portugueses e galegos.
Cerca de 70 participantes assistiram ao evento ‘Nano World Cancer Day’ que decorreu ao mesmo tempo em 12 países europeus sob a alçada da Plataforma Tecnológica Europeia de nanomedicina. A iniciativa visa dar a conhecer os últimos avanços na nanomedicina aplicada ao cancro.
Na sua intervenção, Paulo Freitas, director-geral adjunto e científico do INL apresentou alguns dos projectos de investigação desenvolvidos no INL. No diagnóstico destacou a detecção de células tumorais circulantes no sangue e células raras em fluidos corporais como investigação relevante para auxiliar no diagnóstico e prognóstico médicos.
O projeto, cofinanciado por fundos FEDER – UE, no âmbito do Programa Operacional de Cooperação Transfronteiriça Espanha-Portugal 2007-2013 (POCTEP), está a ser desenvolvido com o Hospital de Santiago de Compostela, em Espanha.
No domínio da terapia, Paulo Freitas referiu a funcionalização de nanopartículas magnéticas para serem aplicas em técnicas de hipertermia. A técnica consiste em injetar partículas magnéticas diretamente em tumores para o destruir sem danificar as células saudáveis e já foi testada in vitro e passará brevemente para testes in vivo.
Realidade galega
Sónia Martinez Arca deposita esperanças na Nanotecnologia como sendo “mais uma ferramenta para poder dar um salto aos projectos que tratam de dar resposta aos problemas de saúde”. A directora de Inovação e Gestão da Saúde Pública da Galiza defendeu uma visão integrada dos serviços de saúde em prol do doente.
Dos 210 mil casos de cancro registados anualmente em Espanha, 12.600 são detectados na Galiza, e são responsáveis por 22 por cento dos gastos hospitalares na região.
“Pelo que tem grande importância na sustentabilidade do sistema”, frisou Sónia Martinez. A esta realidade soma-se o fator demográfico: dois terços dos casos de cancro são diagnosticados a pacientes com mais de 65 anos. Uma preocupação acrescida numa região onde a população se encontra bastante envelhecida. Os dois fatores justificam o forte investimento na investigação do cancro.
Luís Costa, diretor da Divisão de Oncologia do Hospital de Santa Maria apresentou dados encorajadores resultantes da utilização de medicamentos lipossómicos, desenvolvidos com Nanotecnologia, e já usados no tratamento de “alguns cancros”. A menor toxicidade cardíaca destes fármacos trazem benefício para o doente.
O oncologista mostrou-se optimista quanto aos avanços na identificação de biomarcadores que possam “guiar as equipas médicas no tratamento personalizado dos doentes”. As modificações registadas nos tumores ao serem conhecidas em tempo real permitiriam aos clínicos “ajustar as terapêuticas”.
Nuno Miranda Coordenador Nacional do Programa de Doenças Oncológicas, da Direcção Geral de Saúde em Portugal sublinhou o contributo da Nanotecnologia para o conhecimento da doença oncológica e melhorias na administração de fármacos.
Diagnósticos melhores permitem ao clínico definir o tratamento à medida da resposta do paciente e consequentemente mudar os mesmos em conformidade com a sua reacção. “Temos de olhar para o cancro como um processo” acrescentou, sublinhando a “complexidade” da doença.
“Nanotecnologia não é o futuro é o presente”
Falando sobre a introdução generalizada dos avanços científicos no sistema de saúde, o representante do Ministério da Saúde não quis deixar de abo rdar a questão do custo: “Temos de aprender a lidar com os avanços da nanotecnologia e beneficiar deles. É preciso olhar não só para o custo mas também os benefícios económicos; os novos empregos, as empresas e os benefícios para o paciente”.
“A nanotecnologia não é o futuro é o presente”, sublinhou Nuno Miranda. “Não vamos ter um indivíduo que é especialista em Nanotecnologia a fazer medicina” verificar-se-á antes “a aplicação transversal da nanotecnologia em todas as áreas da medicina. Muitas áreas médicas já não seriam viáveis sem a Nanotecnologia que integram”, afirmou o mesmo responsável.
“A nanotecnologia está presente no nosso dia-a-dia, não é ficção científica” corroborou Lars Montelius, diretor-geral do INL. “A interdisciplinaridade é fundamental. Por si só a nanotecnologia não vai resolver nada, é a sua combinação com outras áreas do saber que permite avanços”, acrescentou.
No domínio dos materiais os avanços são já bem reais. Na área da biologia os sucessos estão próximos e são promissores. “O próximo desafio seria poder evitar que a doença apareça”, concluiu Lars Montelius.
Cristina Martins, investigadora do I3S-Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, falou sobre a prevenção do cancro gástrico o “quinto mais comum no mundo”. Todos os anos há 3 mil novos casos diagnosticados em Portugal.
Os cancros gástricos provocados pela bactéria helicobacter pylori são tratados com uma combinação de antibióticos e antiácidos de eficácia limitada. Na sua investigação Cristina Martins utiliza biomateriais modificados na sua superfície à escala nano, para tentar remover a bactéria nefasta. “O meu sonho é deixar de recorrer a antibióticos.”
Patrícia Gomes, da Liga Portuguesa contra o Cancro trouxe a perceptiva do psicólogo. Alguns avanços na medicina têm permitido melhorias na qualidade de vida dos doentes oncológicos, admitiu a responsável, lamentando que não tenha sido dada a mesma atenção à dimensão sexual da vida do paciente.
Na sua intervenção Juan Ruiz, oncologista do Instituto de Investigação de Saúde de Santiago de Compostela, em Espanha, referiu alguns dos medicamentos já aprovados e as vantagens que apresentam.
A organização do evento contou com a colaboração da CCDR-Norte, da Agência Galega de Inovação (GAIN) e do Health Cluster Portugal (Polo de Competitividade da Saúde.)