O empresário João Paulo Araújo Fernandes, de 41 anos, raptado a 11 de março em Braga, e morto no próprio dia, aceitou a entrada de Emanuel Marques Paulino, o ‘bruxo da Areosa’ como administrador da sua empresa, a Climalit, com a promessa de que este lhe cobraria mais de um milhão de euros de créditos de várias empresas da cidade.
A Climalit estava em dificuldades financeiras – e acabou insolvente – ,pelo que a recuperação de créditos traria bonança à tesouraria.
A sugestão partiu do advogado Pedro Grancho Bourbón, amigo de ambos, e tinha em conta os conhecimentos que o «bruxo» angariara junto de gangues do Porto ligados a cobranças difíceis.
A família diz que a Climalit era credora de 300 mil euros da empresa ABB – que comprou 50 por cento da firma – e pagou voluntariamente o débito ao ‘bruxo’, a quem o João Paulo Fernandes tinha passado uma cessão de crédito.
Outra das firmas visadas era a Britalar, do empresário António Salvador, a quem a Climalit reclamava quase 500 mil euros, por trabalhos feitos na climatização do Hotel Meliã, obra feita pela construtora.
Salvador nega a dívida e diz-se ainda credor de 114 mil euros. Uma divergência de números que se prende com o facto de a Climalit ter sido alvo de multas contratuais diárias por atraso na entrega da sua parte da obra. Ou seja: passou de credor a devedor.
Outra das construtoras que a família do malogrado empresário aponta como devedoras é a CCR- Castro, Castro & Rodrigues, que tinha como sócio com metade do capital, o genro do ex-presidente da Câmara, Mesquita Machado.
Nestes dois casos, sabe-se que Salvador não pagou nenhuma verba ao ‘bruxo’. E o mesmo terá acontecido com a CCR. Nenhuma destas empresas está relacionada com o crime.
VOARAM 700 MIL
As mesmas fontes salientam que o ‘bruxo da Areosa’ não só não conseguiu reaver o dinheiro como ainda ficou com 700 mil.
De facto, e além das queixas judiciais apresentadas pelo pai Fernando Fernandes, que diz ter ficado sem 19 bens imóveis, de 1,9 milhões de euros, o próprio raptado declarou, numa carta enviada à PJ/Braga que “passou” aos dois homens a quantia de 300 mil euros e um armazém. 700 mil, ao todo. Estes bens – disse – deveriam continuar seus, mas tal não aconteceu. Ameaçava fazer nova queixa-crime, mas nunca o fez.
Face a estes factos, e dado que o João Paulo Fernandes era a principal testemunha numa ação pauliana (de recuperação dos bens do pai) que corre no Tribunal Cível, o homicídio serviu para o silenciar. Os 19 bens foram colocados numa empresa-cofre criada para o efeito, a Monahome, Lda, gerida por dois jovens empresários da zona do Porto, e que tinha o capital social de cinco mil euros.
“Possuo documentos que comprovam a venda de um crédito, em meu nome, no valor de 300 mil euros, o qual ‘vendi’ (a troco de nada), por uma escritura pública realizada num cartório de Braga ao meu gestor”, afirmou João Paulo Fernandes, num e-mail enviado à PJ.
A 13 de novembro de 2014, anunciou à Polícia: “após ter estado a prestar declarações e de uma reflexão, decidi eu próprio dar o passo de apresentar queixa-crime, contra as mesmas pessoas pelo que me fizeram a mim, pessoalmente”. E escreveu: “falamos nos mesmos intervenientes e no mesmo modus operandi”. Referia-se a um certo “esquema”, o de esconder bens dos credores privilegiados, ou seja, da banca.
Afirmou “ter esta escritura sido preparada e assistida por um advogado”, que nomeou, Pedro Bourbon. Acerca do anterior gestor na Climalit, João Paulo afirmou: “não foi por coincidência a venda a este senhor [o seu antigo gestor]: trata-se do cúmplice, cabecilha e a tal pessoa de confiança” do advogado de Braga para resolver os nossos problemas”.
Aquando do seu depoimento, uma semana antes, a 7 de novembro de 2014, João Paulo referia-se ao seu antigo gestor: “o seu negócio é mais conhecido como bruxo, isto é, as pessoas com problemas financeiros e outros, deslocam-se às suas ervanárias e ele aconselha-as, para depois fazer esquemas”, disse João Paulo. “Fá-los conjuntamente” com dois advogados, um de Braga e outro de Vila Nova de Gaia.
Luís Moreira (CP 8078)