A execução do projecto da Capital Europeia da Cultura 2027, constante da candidatura apresentada ao Governo pelo município de Braga, conta com uma verba de 42 milhões de euros para a execução de um programa cultural, que se inicia em 2023 e só termina em 2029.
Tem como lema o de ‘Tempo de contemplação’, que se divide em quatro pilares: empatia, deambulação, despertar e criação. E elencou já 50 projectos.
Esta sexta-feira, na sessão de apresentação do dossier da candidatura que foi entregue em Novembro ao Ministério da Cultura, quer o presidente da Câmara, Ricardo Rio, quer a coordenadora do projecto Claúdia Leite, salientaram que, caso Braga não vença a candidatura – onde estão outras 11 cidades portuguesas – o projecto fica e será concretizado, no quadro da Estratégia Cultura 2030, já em vigor.
O dossier envolve, nesta primeira fase, um total de 50 projectos, com momentos-chave como os da abertura – transmissão da tarefa pela cidade europeia que detinha o título -, de encerramento, e ainda de ‘Rituais de Primavera’, Dia Europeu da Peregrinação e Parada do Solstício.
No evento, que decorreu no café-concerto da RUM (Rádio Universitária do Minho) no edifício gnration, participaram, ainda, João Duque, da Faculdade de Teologia da Universidade Católica de Braga, Laura Castro, directora Regional de Cultura e Cristina Farinha, perita internacional em CEC’s e consultora externa do projecto bracarense.
VALORIZAR BRAGA
Na ocasião, o presidente bracarense Ricardo Rio disse que “a CEC é um salto qualitativo, uma etapa de um processo de gestão e valorização do território com iniciativas que sendo culturais podem contender com a área social, ambiental ou económica”.
Disse que, quando se enfrenta a questão premente da mobilidade na cidade ou a da construção de equipamentos culturais como os do futuro Centro MediaArts, ou o do Museu Arte Contemporânea – de iniciativa privada – está-se a concretizar uma estratégia de desenvolvimento integral.
Já Cláudia Leite defendeu que o ‘Tempo para a contemplação’ quer envolver uma mudança de hábitos, de rotinas, e de conceitos criados entre os cidadãos, frisando que os novos 50 projectos estruturados em quatro eixos ou ‘templos’ não esgotam o que será o programa da candidatura, posto que, “numa segunda fase haverá sempre espaço para desenvolver o programa artístico”.
A título de exemplo disse que o ‘Templo da empatia’ aborda questões de importância europeia como as do envelhecimento activo, do diálogo inter-social e da doença mental, sempre com uma abordagem através da cultura.
Falou no projecto chamado de ‘Atirar o bairro à parede’, como sendo de iniciativas de interligação entre bairros e comunidades, reactivando tradições e práticas culturais antigas.
NOVOS PERCURSOS
Falou do ‘Templo da Deambulação’, como sendo o da redescoberta de percursos existentes no concelho, e de lançamento de novos roteiros, através de práticas de vida sustentáveis, entre eles um novo guia artístico da cidade ou um revisitar dos Caminhos de Santiago através da perspectiva de um artista ou escritor oriundo dos 27 estados-membros da União Europeia que aqui farão uma residência artística.
Elencou, ainda, outros projectos como o de um EcoFestival que envolverá todas as cidades da CIM- Comunidade InterMunicipal do Cávado.
Na ocasião, João Duque, da Universidade Católica – e que integra o Conselho Consultivo da CEC onde estão, também, a Universidade do Minho e o IPCA- Instituo Politécnico do Cávado e Ave – disse ter ficado agradado com a dimensão de espiritualidade que está patente no lema da Contemplação, realçando que “a articulação entre o catolicismo e o paganismo existe desde a era pré-cristã e essas tradições nunca nos abandonaram completamente”.
Lembrou que, historicamente os templos bracarenses eram católicos, mas hoje têm nova dimensão, estendendo-se à cultura e ao próprio futebol: “de um tempo de contemplação católica passamos a uma Braga cidade plural em termos religiosos e até não-crentes, pelo que julgo ser uma mais valia desta candidatura a de conjugar ideias e eventos num paradigma de reflexão e de espiritualidade pessoal”.
CARÁTER EUROPEU
De seguida, a especialista Cristina Farinha disse que o trabalho realizado resultou num dossier completo com um painel imenso de actividades ao longo do tempo e que envolveu várias instituições, numa actividade “de baixo para cima”.
Lembrou que a União Europeia irá valorizar a dimensão europeia do projecto, e não tanto a vertente local ou nacional, e considerou o ato de divulgação como um primeiro” momento celebratório”. Enalteceu a CEC Braga 27, como sendo de desenvolvimento da cidade, baseado na reunião de um conjunto de vontades e de projectos de longo fôlego, muito estruturado e que “é um guia para Braga”.
ESTRUTURANTE
Na sessão, a Directora Regional de Cultura Laura Castro salientou que a sua presença não significava um apoio pessoal à CEC Braga, lembrando que esteve em iguais sessões em Viana do Castelo e em Vila Real.
Disse que tendo assistido às três sessões, reparou que Braga tem um processo longo de trabalho num projecto estratégico para a Cultura, sublinhando que o pensar, reflectir e reconhecer um território, na tentativa de implementar acções diversas e comprometer agentes no terreno, como é o caso da CEC, é um acontecimento que vale pelo efeito estruturante que pode ter em cada concelho.
Luís Moreira (CP 7839 A)