Braga é o distrito do país com mais crianças e jovens de etnia cigana a estudar do país, com 4.257 alunos, e o 7.º na frequência do ensino superior, segundo dados revelados este domingo pelo jornal Público.
O estudo ‘Perfil Escolar das Comunidades Ciganas’, a que aquele diário teve acesso, traça um retrato dos alunos ciganos matriculados nas escolas públicas do continente no ano lectivo de 2018/19, com base num questionário electrónico do Ministério da Educação, a que só não responderam nove dos 808 agrupamentos ou escolas não agrupadas.
O documento permite concluir que, após dois anos de “esforço redobrado” as taxas de aproveitamento cresceram de forma significativa. Outras das conclusões é que a Área Metropolitana de Lisboa (AML), que tem a mais população deste grupo minoritário, concentra menos alunos nas escolas públicas, maior taxa de retenção e de abandono.
Conclui-se também que o país revela uma grande assimetria regional.
Recuando 21 anos, ao ano lectivo de 1997/98, é evidente a mudança: 5.921 crianças e jovens ciganos frequentavam o ensino básico e secundário (não há dados sobre o pré-escolar). Hoje são 22.570, sem o pré-escolar.
BRAGA COM MAIS MIL ALUNOS QUE LISBOA
Regressemos aos números comparativos referentes ao ano lectivo 2018/19, quando estudavam em Portugal 25.140 ciganos, distribuídos pelo pré-escolar (2.570 alunos), básico (21.919) e secundário (651).
Deste total, 44,3% frequentavam o 1.º ciclo, 24,3% o 2.º, 18,6% o 3.º e 2,6% o secundário.
O distrito de Braga contava com 138, no pré-escolar, 4.092 no básico e 27 no secundário, somando os tais 4.257 alunos.
O Porto, que ocupa o 2.º lugar na tabela (3.912 total), tem menos 345 alunos que o distrito vizinho, com 289 no pré-escolar (mais 151 que Braga), 3.305 no básico (menos 787) e 318 (mais 295).
Já a Grande Lisboa (3.075 total) contava com 402 no pré-escolar (mais 264 que Braga), 3.270 no básico (menos 822) e 33 no secundário, só mais 6.
No top 5, estão os distritos de Aveiro (total 1.948) e Setúbal (1.874).
No último lugar da tabela surge Viana do Castelo, com um total de 222 alunos ciganos:38+183+1.
RETENÇÃO
O documento revela ainda que o Norte e o Centro apresentam uma taxa de retenção muito mais baixa no ensino básico (9,4% e 13,5%) do que a AML, o Alentejo e o Algarve (23,6%, 22,5% e 22%).
A região Norte tem ainda a menor taxa global de abandono no básico (3,3%) e a AML a mais elevada (15,8%).
Pormenorizando, é no distrito do Porto que há mais jovens a frequentar o secundário (317), muito à frente de Vila Real (34), Aveiro (33), Lisboa (33), Bragança (33) Setúbal (32), Braga (27), Faro (26) e Leiria (22).
“EVOLUÇÃO POSITIVA”
A comparação dos dados absolutos entre os anos lectivos 2018/19 e os de 2016/17 é desaconselhável por que, como alerta o Público, a esse primeiro questionário só responderam 70% dos agrupamentos e escolas não agrupadas e não os 99% de agora
Todavia, os dados relativos permitem perceber a mudança resultante do tal “esforço redobrado” das escolas e a “evolução positiva” de que fala o ministro da Educação em entrevista ao Público: a frequência do 1.º ciclo passou de 61,6% para 85,6%; no 2.º, subiu de 49,1% para 63,7% e no 3.º ciclo, de 49,4% para 73,7%. No secundário cresceu de 64% para 75,4%.
Tiago Brandão Rodrigues atribui o resultado ao trabalho desenvolvido pelas comunidades educativas que assenta na “promoção do sucesso escolar, através da diversificação, inovação e contextualização das estratégias de ensino e aprendizagem, envolvendo os alunos, as famílias e um conjunto alargado de entidades parceiras do campo da intervenção social”.
O estudo, o segundo (o primeiro foi em 2016/17), é uma exigência da Estratégia Nacional de Integração das Comunidades Ciganas, a Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência em parceria com a Direcção-Geral da Educação.
Fernando Gualtieri (CP 1200)