Um dos 46 arguidos de um julgamento por burla na venda de 70 carros na internet, que esta terça-feira, começou no Tribunal de Braga, contou ao colectivo de juízes o modo de operar do grupo, ou seja, a maneira como enganava os incautos vendedores.
Marco Paulo referiu que abordavam telefonicamente as vítimas, depois de terem visto a foto da viatura nos sites OLX, Stand Virtual e Custo Justo. A rede recorria a um casal com aparência normal, que contactava o vendedor e aparecia, depois, para comprar. A burla era consumada, de preferência, a uma sexta-feira já que os bancos fecham ao fim de semana. E a operação era feita ou com depósito de um cheque ou com transferência bancária.
Em ambos os casos sem que houvesse dinheiro. Os compradores marcavam encontro e ora aparecia o suposto comprador, ora alguém da família, que se dizia filho, cunhada ou pai do interessado. Pediam-lhe o NIB (Número Interbancário) ou o da conta bancária e faziam-lhe um depósito no valor que o vendedor pretendia. Este, incauto, verificava o depósito no multibanco e – sublinha a acusação – acreditava nos compradores, dada a urbanidade com que se apresentavam.
Pagavam, também, com cheques furtados e assinaturas falsas, levando os carros sem os pagar.
BURLA DE 2 MILHÕES
A burla atingiu dois milhões de euros. Estão acusados de associação criminosa, burla qualificada, falsificação de documentos, receptação, posse de arma proibida e condução sem carta. A investigação foi da PSP de Braga.
O Tribunal ouviu, também, uma outra arguida, de nome Rita, que desdisse o que tinha dito na fase de investigação. Nas primeiras declarações na Polícia contou tudo, ou seja, o modo como foram praticados alguns dos crimes, mas veio agora desdizer-se, afirmando que na altura se equivocara. Facto interpretado por alguns dos muitos advogados presentes como tendo sido consequência das pressões que terá sofrido por parte de outros arguidos.
NÚCLEO DURO ‘GANGUE’ EM PREVENTIVA
O núcleo duro do ‘gangue’, cinco arguidos todos familiares entre si, vai continuar em prisão preventiva. Foi deles que partiu o esquema, mais tarde alargado a outros familiares e amigos, de Gaia, Porto, Guimarães, Vila do Conde, Póvoa de Varzim, Santarém, Abrantes e Rio Maior.
Dedicavam-se a carros de gama média e alta, com valores que iam dos 12 aos 85 mil euros. Vestidos de forma civilizada e com falas mansas, abordavam telefonicamente as vítimas, depois de terem visto a foto da viatura e o telemóvel no site.
A rede recorria a um casal com aparência normal, que contactava o vendedor e aparecia, depois, para consumar a compra. A vigarice era consumada, de preferência, a uma sexta-feira já que os bancos fecham ao fim de semana. Marcavam encontro e ora aparecia o suposto comprador, ora alguém da família, que se dizia filho, cunhada ou pai do interessado. Pediam-lhe o NIB (Número Interbancário) ou o da conta bancária e faziam-lhe um depósito no valor que o vendedor pretendia.
Este, incauto, verificava o depósito no multibanco e – sublinha a acusação – acreditava nos compradores, dada a urbanidade com que se apresentavam a fazer o negócio.
Sem verificar se o cheque tinha ou não cobertura e se o titular era o comprador, o vendedor entregava as chaves e o veículo e passava a respectiva declaração de venda. Dois ou três dias depois o cheque vinha devolvido ou por não ter provisão, ou, quase sempre, por ter sido furtado ou extraviado.
Em alguns casos, os larápios voltavam a contactar a vítima, pedindo-lhe seis mil euros pela devolução do veículo.
ARMAZÉM EM VILA VERDE
Noutros conseguiam vender o carro, a preço inferior ao de mercado, e o comprador conseguia legalizá-lo. Noutros, ainda, quando havia dificuldade no registo por falta de um documento, eram enviados para um sucateiro de Gualtar, Braga, com depósito em Dume e armazém em Vila Verde, onde eram desmantelados para peças.
Aquando de uma rusga em Novembro de 2015, a PSP apanhou 18 dos carros furtados, 15 deles nesse armazém.
A Polícia recuperou 30 viaturas, já entregues aos seus donos. Os compradores dos carros furtados, mesmo que de boa-fé, ficaram sem o dinheiro gasto.
Nas buscas, apreendeu 45 mil euros e duas armas. Quarenta carros desapareceram sem deixar rasto.