A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) manifestou esta terça-feira o seu apoio à realização de um referendo contra a despenalização da eutanásia em Portugal, propondo uma aposta nos “cuidados paliativos”, como alternativa.
Recorde-se que a Assembleia da República agendou para o próximo dia 20 o debate e votação de quatro projectos de lei com vista à legalização da eutanásia, apresentados pelo PS, Bloco de Esquerda, PAN e Os Verdes.
“A opção mais digna contra a eutanásia está nos cuidados paliativos como compromisso de proximidade, respeito e cuidado da vida humana até ao seu fim natural. Nestas circunstâncias, a Conferência Episcopal acompanha e apoia as iniciativas em curso contra a despenalização da eutanásia, nomeadamente a realização de um referendo”, refere um comunicado dos bispos católicos, divulgado após a reunião mensal do Conselho Permanente que decorreu em Fátima.
O documento foi apresentado aos jornalistas pelo secretário da CEP, padre Manuel Barbosa.
Os bispos aludem à “hipótese da despenalização da eutanásia na Assembleia da República”, recordando as posições tomadas pela Igreja Católica em 2016, em particular a nota Pastoral ’Eutanásia: o que está em causa? Para um diálogo sereno e humanizador’, na qual se afirma que “nunca é absolutamente seguro que se respeita a vontade autêntica de uma pessoa que pede a eutanásia”.
“A sociedade tem de ser consultada – e o referendo é uma forma -, tem de ser ouvida sobre questões que são essenciais da própria vida. A legitimidade [do Parlamento] é, naturalmente, para servir o bem comum do povo, neste caso o povo português”, indicou o padre Manuel Barbosa.
O porta-voz da CEP considerou que, nesta situação, o referendo é uma forma “útil”, neste momento, “para defender a vida no seu todo, desde o princípio até ao seu fim natural”.
O responsável assinalou que a Igreja Católica se une a iniciativas da Ordem dos Médicos e de outras religiões, “contra a despenalização da eutanásia”.
O padre Manuel Barbosa “tem de se ouvir o que é que a sociedade no seu todo tem a dizer” sobre esta matéria, incluindo a Igreja Católica.
Para o secretário da CEP, as propostas de despenalização não foram suficientemente debatidas na campanha eleitoral para as Legislativas de 2019.
“Achamos que o debate deve continuar e a sociedade deve ser ouvida, numa questão essencial da vida, que nunca é referendável. Mas é uma forma de ouvir a sociedade, o que tem a dizer numa matéria tão importante da vida e da dignidade humana”, sustentou.
Na sua mensagem para Dia Mundial do Doente 2020 (11 de Fevereiro), o Papa reforça a sua oposição a projectos de legalização da eutanásia.
Dirigindo-se aos profissionais de saúde, Francisco pede que a sua acção vise “constantemente a dignidade e a vida da pessoa, sem qualquer cedência a actos de natureza eutanásica, de suicídio assistido ou supressão da vida, nem sequer se for irreversível o estado da doença”.
O texto refere que, em certos casos, a objecção de consciência pode ser uma “opção necessária” para os católicos que trabalham neste campo.
Nos últimos dias foram vários os responsáveis eclesiásticos que se manifestaram contra a eutanásia, com destaque para o cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, que neste fim-de-semana afirmou que “a pessoa deve ser sempre acompanhada com um ‘não’ rotundo a tudo aquilo possa obviar à vida dessa pessoa. Não à eutanásia, não ao suicídio assistido”.
“Quando uma sociedade entra por esses caminhos, essa mentalidade suicida alarga-se a toda a sociedade, que se torna ela própria suicidária”, acrescentou o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, na homilia de uma missa, citado pela agência católica Ecclesia.
Também o Arcebispo de Braga, Jorge Ortiga, considerou que a vida “é inviolável” e os cuidados paliativos “são a única resposta para garantir uma morte digna”.
Redacção com Agência Ecclesia