Sete meses após as declarações de Trump a Woodward, o jornalista está a ser criticado por não alertar mais cedo para o facto do presidente norte-americano ter conhecimento sobre os riscos do vírus que causou a morte a mais de 190 mil pessoas nos Estados Unidos.
O jornalista norte-americano Bob Woodward escreve no seu novo livro ‘Rage [raiva]’ que o presidente norte-americano Donald Trump já sabia desde Fevereiro que o novo coronavírus era mais mortífero do que alguma vez admitiu publicamente.
Sete meses após as revelações terem sido feitas, o jornalista está a ser criticado pela classe jornalística por esconder as declarações durante tanto tempo, avançam a Newsweek, Associated Press, ABC News e CNBC.
O jornalista ficou conhecido por ter revelado no jornal Washington Post, com Carl Bernstein, o escândalo Watergate em 1972 que provocou a demissão do presidente republicano Richard Nixon.
As revelações surgiram ontem, depois de Woodward ter partilhado uma conversa telefónica com Trump, referente a 7 de Fevereiro, com os colegas do The Washington Post, onde é editor associado, e com a CNN. Donald Trump admitiu ao jornalista veterano que o vírus era “mortífero”, “contagioso” e “muito mais perigoso do que uma simples constipação”.
Dias depois de declarar emergência nacional, o presidente explicou ao jornalista que desvalorizava publicamente o vovid-19 para não criar pânico em massa.
Muitas das críticas que surgiram nas redes sociais têm como alvo Woodward e muitas são provenientes de jornalistas, que concordam que a conversa não deveria ter sido arquivada durante sete meses para vender mais livros.
“As coisas podiam ter sido diferentes se os apoiantes de Trump soubessem todo este tempo que a Covid era uma séria ameaça? Woodward podia ter feito isso acontecer em Fevereiro”, disse a jornalista do site de investigação ProPublica, citada pela NBC.
Já o antigo chefe do BuzzFeed em Washington, John Stanton, admite que “não existe defesa ética ou moral para a decisão de Woodward em não publicar as gravações quando elas foram feitas”.
“Se havia qualquer hipótese dele salvar uma vida, ele estava obrigado a fazê-lo. Bob Woodward escolheu fazer dinheiro em vez do seu dever moral e profissional”.
O jornalista desportivo do The Atlethic, Kyle Tucker, adicionou um “novo ângulo” para a história que tem marcado a actualidade. “Simultaneamente, Woodward fez um grande serviço à nação por gravar a fraude e um enorme não-serviço por não revelar as declarações por vários meses, para ter exclusivo num livro, enquanto milhares de pessoas morriam”, escreve na rede social Twitter.
De acordo com os dados das autoridades de saúde norte-americanas, estima-se que a primeira morte causada pelo vírus tenha acontecido ainda no fim de Janeiro, enquanto as infecções só começaram a dar sinal no mês de Fevereiro. À data desta quinta-feira, 10 de Setembro, os Estados Unidos registam um total de 6.376.425 casos detectados de covid-19 e 190.869 óbitos causados pelo vírus.
DEFESA DE WOODWARD
Em declarações a alguns jornais, o jornalista que causou a demissão de Richard Nixon em 1974, admitiu estar sentado a ouvir Trump e simultaneamente a questionar-se sobre a veracidade das declarações que agora se tornaram públicas. “Uau, isto é interessante, mas é verdade? O Trump diz coisas que não são verdade, certo?”, disse também à Associated Press numa conversa telefónica.
Ainda em declarações à Associated Press, Woodward explicou que fez da sua missão determinar “o que ele [Trump] sabia e quando é que o soube”, de forma a fazer uma linha temporal para perceber mais detalhes da história.
“Se eu tivesse divulgado a história naquela altura, sobre o que ele sabia em Fevereiro, isso não nos ia contar nada que não soubéssemos já”. Segundo a publicação, a questão central já não envolvia a saúde pública dos cidadãos norte-americanos mas política, com a prioridade do jornalista a alterar-se para passar a divulgar a história antes das eleições de Novembro, afectando as sondagens ao actual presidente.
Redacção com Jornal Económico